A pandemia do novo coronavírus abalou os mercados financeiros, fez o dólar disparar e fez as bolsas ao redor do mundo derreterem. O Ibovespa fechou março com baixa de 29,9%, aos 73,019 pontos – maior queda mensal desde 1998, na época da crise russa. Diante das incertezas e da volatilidade, os investidores ficam em pânico sem saber o que fazer com os seus investimentos e como proteger seu dinheiro.
O economista Rodrigo Alcântara, da Atrio Investimentos, conta que apesar das medidas adotadas pelo governo para reduzir o impacto econômico do coronavírus, muitos investidores preferem a liquidez neste momento. “Não sabemos ao certo qual será a capacidade do capital de giro das suas empresas e famílias até o final da quarentena. Não sabemos nem quando a quarentena vai acabar”, diz.
Como lidar com a volatilidade?
Os mercados estão sensíveis ao avanço do coronavírus e, agora, no Brasil, deve crescer a preocupação com cenário político após o ex-juiz federal Sérgio Moro pedir demissão do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública. Portanto, a volatilidade pode aumentar novamente.
Alexandre Amorim, gestor de investimentos da ParMais, destaca que volatilidade sempre existiu e existirá nos períodos de bonança e crise. “O importante é que os investidores tenham a cabeça fria e sempre respeitem seus limites. Quem tem uma carteira de investimentos montada de acordo com seu perfil pode passar por momentos como esse sem grandes preocupações”, afirma.
Ter um portfólio de investimentos de acordo com o seu perfil de risco é primordial para evitar situações de estresse, ansiedade e até prejuízos. “Quem extrapola seus limites e fica buscando oportunidades de ganhar dinheiro fácil – seja nos momentos de alta ou durante a crise – deixa de ser investidor e passa a ser especulador. E a chance de perder dinheiro é muito grande”, alerta Amorim.
É importante frisar que os riscos são intrínsecos em qualquer investimento, alguns mais do que outros. Portanto, o investidor deve ficar atento, buscar informações e estudar a dinâmica do mercado financeiro para não agir ao sabor das movimentações econômicas.
É o momento de resgatar meu dinheiro?
O desempenho negativo dos investimentos em tempos de crise é desolador e pode impulsionar a vontade de resgatar os recursos. No entanto, especialistas alertam que é necessário ter cautela para não agir por impulso.
Segundo Amorim, o resgate só deve ocorrer se tiver que atender alguma necessidade específica. “Se os motivos são medo ou falta de tolerância ao risco, deve-se repensar os investimentos e a montagem da carteira no futuro”, recomenda.
Contudo, Alcântara explica que o resgate depende de cada portfólio e investidor, pois alguns vão precisar da liquidez e a venda do capital na bolsa será inevitável. “Para os investidores que compram ativos na bolsa de valores pensando no longo prazo e possuem reserva de emergência, o momento é de aguardar e não tomar nenhuma decisão precipitada”, diz.
O economista também aconselha revisar a carteira de investimentos. “Olhe para as ações que você tem no portfólio e verifique qual delas sobreviverá o período de crise. Para isso, é importante contar com uma assessoria de investimentos. O assessor vai te ajudar a cuidar da sua carteira e auxiliar nas mudanças adequadas para seu perfil, considerando suas necessidades e realidade econômica”, afirma.
Devo investir meu dinheiro?
Em geral, alguns investidores aproveitam os momentos de incertezas econômicas para comprar ações visando ganhos no longo prazo. Todavia, é um movimento indicado para quem tem perfil arrojado e mais experiência com o mercado financeiro.
De acordo com Alcântara, os riscos estão atrelados diretamente aos ativos que o investidor vai adquirir e ao momento que ele vai vender as ações. “Não adianta comprar hoje e vender amanhã se a bolsa cair alguns percentuais, sem viés de longo prazo e nenhuma alteração de valor na companhia que você comprou”, diz.
Pessoas que tinham um valor disponível para investir, mas foram surpreendidas pela crise devem, em primeiro lugar, separar o valor da reserva de emergência e alocar os demais recursos em aplicações de longo prazo. Para isso, conte com a ajuda de um assessor de investimentos.
Lembre-se que é fundamental respeitar o seu perfil de investidor em momentos de crise e períodos normais. “Investidores que não possuem perfil para investir na Bolsa de Valores, por exemplo, podem ficar emocionalmente abalados ao ver o capital desvalorizado e isso pode gerar decisões completamente equivocadas”, alerta Alcântara.
A pandemia do Covid-19 transformou o mundo que conhecíamos até então. Muitos especialistas acreditam que após a crise haverá mudança nos hábitos de consumo, modelos de trabalho e também na forma de investir. Ainda não sabemos quando a tempestade vai passar, mas por agora a recomendação é cautela.
“O momento pede que o investidor se informe antes de alocar o recurso disponível. O conhecimento abre portas para melhores investimentos e ninguém deseja colocar o capital em ativos de risco que podem desvalorizar e causar prejuízo no momento do resgate. Todos queremos um crescimento saudável da carteira de investimento”, finaliza Alcântara.