Medicina é uma profissão frequentemente passada de geração em geração. Desta forma, também é comum encontrar consultórios formados por pais e filhos. Essa forma de trabalho tem suas vantagens, desvantagens e, assim como qualquer empresa familiar, uma série de desafios a serem superados.
Os valores da família se transformam na cultura da empresa. Isso pode ser positivo, pois deixará todos mais unidos e empenhados em fazer o consultório crescer. No entanto, isso pode acabar se tornando um empecilho. Por exemplo, se a família tem um temperamento muito forte ou é inflexível em relação a mudanças e ideias, pode acabar passando essas características para a empresa e prejudicando seu crescimento.
Desafios de ter um consultório em família
Talvez o maior deles seja separar a esfera pessoal da profissional – e isso vale tanto para a convivência quanto para a gestão. É comum que conflitos da empresa sejam levados para o seio familiar, e vice-versa, o que pode ser desmotivador tanto para os familiares quanto para os pacientes, que acabarão se afastando graças à falta de organização e harmonia.
“Essa separação é importante não apenas para que o negócio dê certo, mas principalmente para preservar os valores e a integridade da família. Como consequência, a empresa será vista como independente da família e sua gestão será tão desafiadora como a de qualquer outro negócio”, diz Flavio Ricardo Rodrigues, professor da IBE-FGV.
Há, ainda, certa resistência à profissionalização do negócio e à padronização dos processos. “Esse é um erro muito grande, que pode atrapalhar tanto o cotidiano da empresa quanto seu crescimento”, afirma Ligia Molina, professora de gestão de pessoas da IBE-FGV e coach de carreira.
Mantendo o consultório nos trilhos
Separar as esferas profissional e pessoal é o primeiro passo para a prosperidade. A maneira mais eficiente é ter processos e normas claras. É preciso entender as capacidades individuais e distribuir bem as atividades da empresa entre os sócios de acordo com essas habilidades.
“O ideal é que haja complementaridade dessas competências para não ocorrer sobreposição de funções e evitar que determinadas atividades fiquem sem responsáveis diretos”, aponta Sérgio Dias, consultor do Sebrae e economista. Por exemplo, é interessante que as especialidades médicas sejam análogas e/ou complementares.
Essa mesma distinção justificará a demissão de um familiar, afinal, ela será pautada em argumentos bem estabelecidos, como desempenho, e não em achismo. Da mesma forma, deve-se ser extremamente cauteloso para separar as finanças da família e do consultório, pois falhar nisso pode ser fatal para a sobrevivência do negócio.
“A busca pelo seu espaço deve ocorrer entre os sócios de forma natural e ética, com respeito mútuo e, principalmente, com atitudes parceiras”, finaliza Dias.