Resolvi neste último post fazer algumas breves considerações sobre a questão acima e vocês podem aguardar para o próximo “para onde vamos?”
O Brasil perdeu capacidade de produção e de arrecadação de impostos e isso gerou uma crise de caixa – não necessariamente estamos gastamos mais, mas com certeza estamos tendo menos recursos para pagar as contas, estamos em déficit! Tem inflação baixa, taxa de juros razoável, dinheiro em caixa para pagar dívidas em dólar (que são poucas), mas temos um gasto maior, e para pagar esse gasto, emprestamos no mercado e pagamos juros que hoje significam o maior gasto do país – 39,7% de todos os gastos.
O segundo maior é com a previdência social – 25,7%. Depois transferências a municípios e estados – 8,7%, gastos com a saúde – 4,1%, gastos com a educação – 4,1% e os gastos restantes -17,7% divididos por um monte de outros gastos menores. O fato é que estamos falando de um orçamento de R$ 2,483 trilhões que saiu de um PIB de R$6,6 trilhões. O gasto público financiado por impostos em 2017 (neste ano de 2018, as grandezas serão semelhantes) foi equivalente a 38% do valor produzido pelo país!
A discussão sobre se gastamos mais do que devemos é secundária ao que queremos com o gasto realizado.
O que queremos?
Um país melhor! Mais justo. Onde os cidadãos tenham uma linha de partida para o jogo da vida mais igual, nas palavras do professor Delfim Neto.
Mas a má gestão dos gastos públicos nos fez perder a confiança no Estado e o resultado foi uma imensa retração da economia com uma crise de produção e de arrecadação de receitas e o crescimento da conta juros que somente produz riqueza para quem empresta (perdem, portanto, o Estado e o cidadão). Assim sendo, não estamos alcançando o objetivo de criar um país melhor.
Porém além da crise de produção/arrecadação, o Estado brasileiro padece de mais dois outros problemas graves – é ineficiente e corrupto!
O que é gestão? É basicamente mobilizar recursos para atingir objetivos. O Estado brasileiro compra e contrata mal. O estoque médio de um bom hospital estatal é de cerca de 90 dias e de um bom hospital privado é de 20 dias. Para contratar, repor uma demissão (que no estado não acontece por vontade do empregador, e este é um problema muito grave), o Estado demora um ano na melhor das hipóteses, e no privado não mais que um mês. Portanto, sem mobilizar recursos, não se atinge objetivos!
E ainda resta a questão da corrupção, fruto de um Estado onde não existe transparência, e sim impunidade. Não precisamos de mais leis, de mais duras punições. Precisamos que o que já existe seja usado, que produza efeitos. Precisamos de transparência sem paralisação. Digo isso, pois muitas vezes se supõe que transparência significa fazer as coisas de uma forma que torna impossível fazer o que deve ser feito. Por isso, às vezes, a maneira de gerar transparência não é na compra ou na contratação, e sim na aferição do resultado.
O fato é que esses temas têm de ser entendidos e atacados. Na saúde, conseguimos muitas melhorias em termos do aumento da expectativa de vida, da redução da mortalidade infantil, de vários programas de sucesso (Aids, vacinação, transplantes, fornecimento de medicamentos para hemofílicos, etc.). Mas temos todos os outros problemas para resolver. Temos que melhorar o financiamento, temos que aumentar a eficiência da gestão (no público e no privado) e temos que ser mais transparentes, no público e no privado. Temos que mudar o modelo de negócio que usamos. Não dá para remunerar médicos e hospitais usando para isso uma fração do custo dos materiais (OPMEs, medicamentos oncológicos). Isso é falta de transparência e uma forma de corrupção também.
O que quero dizer é que temos que mudar o país e o jeito de fazer o que fazemos em tudo, e também na saúde. E o momento é este, logo após a posse dos novos governantes e dos novos legisladores eleitos democraticamente e que têm o desafio de realizar as mudanças que levarão a sociedade a construir um futuro melhor.
Respondendo à pergunta inicial, estamos em um momento que teremos que transformar o modelo de negócio que fazemos na sociedade e em particular na parte que nos cabe, que é a saúde tanto pública quanto privada.
Boas festas e vamos fazer nossa parte nessa transformação!