A promessa de dinheiro fácil já seduziu muitas pessoas. Ela pode vir em forma de um investimento com rendimentos estratosféricos, que logo atraem a atenção de quem quer ver seu patrimônio crescer rapidamente. A maneira que este “milagre” chega aos seus ouvidos varia desde a indicação de colegas do hospital até publicações em grupos no Facebook e anúncios em redes sociais.
No entanto, quem não desconfia de “investimentos milagrosos” corre sérios riscos, afinal, eles costumam esconder fraudes e pirâmides financeiras. Há anos, a Telexfree enganou um grande número de brasileiros e, mais recentemente, a Alcateia – que prometia rendimento de até 2% ao dia – e Maximus Investimentos, que mais tarde comprou a Alcateia. Os casos foram tão graves que, provavelmente, você ouviu sobre eles em jornais.
Um novo esquema está se espalhando por grupos de Facebook e promete rendimentos de 2,9% ao mês, com risco mínimo de perda, sendo o aporte mínimo de R$ 500. Para que se tenha noção, um dinheiro bem investido em renda fixa pode render, aproximadamente, 1% ao mês.
Uma breve simulação mostra números tão surpreendentes quanto enganosos e impraticáveis. Aplicando R$ 500 ao mês por 12 meses – totalizando esforço de poupança de R$ 6 mil –, quem “investe” no esquema faturaria R$ 7.053,83 ao todo. No período de 10 anos (120 meses) e o mesmo aporte mensal de R$ 500, o valor ultrapassaria os R$ 513 mil.
Não é preciso ter muito senso crítico para entender que a proposta parece boa demais para ser verdade. No entanto, pode ser difícil ser racional diante de uma proposta dessas. “Elas mexem com a emoção das pessoas, que acreditam que vão ficar ricas da noite para o dia e sem risco. Mas todo investimento tem riscos, até mesmo a poupança”, alerta o professor de finanças da IBE-FGV, Emerson Barboza.
Como identificar uma fraude financeira?
Existem diversos fatores que devem levar o investidor a desconfiar. A primeira delas é que essas empresas de investimentos prometem alta rentabilidade futura. No entanto, elas costumam aplicar o dinheiro de seus clientes em uma carteira, basicamente, formada por ativos de renda variável. Não é possível prever rentabilidade quando se aplica nestes tipos de investimentos, ou seja, mesmo um bom histórico de rendimentos não é suficiente para predizer o comportamento das aplicações no futuro.
Estamos falando de propostas que fogem muito do que o mercado oferece, com destaque para os retornos muito acima da média, ausência de taxa de administração, risco zero e investimentos que não são autorizados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). É o caso do Forex – abreviação de Foreign Exchange Market, mercado de câmbio extremamente volátil que não é regulamentado no Brasil.
Também é importante apontar que muitas fraudes financeiras se apresentam como empresas de marketing multinível. No entanto, existe uma diferença entre eles. O lucro do marketing multinível se baseia majoritariamente na venda de produtos, e não na indicação de novos membros – esta vem apenas para incrementar a renda.
Já a pirâmide não apresenta nada concreto, apenas o dinheiro que os próprios participantes aplicam almejando grandes lucros. Nestes casos, quanto mais gente os membros indicarem, melhor, pois ganharão uma comissão dos rendimentos dos indicados.
O consultor de investimentos e professor de gestão financeira da IBE-FGV, Matheus Gaboardi, fez uma simulação de um modelo de pirâmide simples, no qual cada membro precisa recrutar mais dois, com investimento inicial de R$ 10 mil por pessoa. Ao chegar ao décimo nível, o “fundo de investimento” já teria juntado mais de R$ 20 milhões. No nível 28, o patrimônio já teria ultrapassado o PIB do Brasil.
“Essa modalidade de ‘investimento’ é uma bomba relógio que favorece por um curto período de tempo apenas o topo da pirâmide. Ela inevitavelmente irá fracassar, mas consegue ter um curto período de vida embasado na falsa promessa de ganhos rápidos e fáceis – algo impossível de se obter de maneira consistente no longo prazo”, afirma.
Como escapar de fraudes e pirâmides financeiras
“A melhor maneira é sempre manter em xeque o psicológico e compreender que não existe fórmula mágica para a riqueza. Também é preciso fazer uma análise não só da proposta, mas do gestor da empresa ou fundo, das garantias oferecidas e do histórico do próprio fundo”, ensina Gaboardi.
Já a CVM, via boletim informativo, recomenda que, “por cautela, sempre que receber uma oferta de produto ou serviço financeiro, o investidor poderá procurar instituições autorizadas pelas entidades governamentais responsáveis pelo produto ou serviço vinculado ao negócio, tais como a CVM, o Banco Central do Brasil ou mesmo a Superintendência de Seguros Privados, neste caso para investimentos em previdência aberta, seguros e títulos de capitalização. Havendo dúvidas sobre temas financeiros, o cidadão pode consultar a CVM”.
Aos que já colocaram dinheiro no esquema, o melhor a ser feito é sair o quanto antes para minimizar as perdas. Então, estude o mercado financeiro para, da próxima vez, aplicar seu dinheiro de maneira consciente.
“O maior risco é tentar colocar o dinheiro em algo que não entendemos como funciona. Se você não entende direito, já é um grande alerta para repensar. Estude sobre investimentos, conheça mais o mercado e entenda seus fundamentos”, finaliza Barboza.