A situação é comum: um paciente chega ao setor de emergência com algumas queixas específicas e, para realizar um diagnóstico, o médico pede alguns exames para iniciar a investigação. Apesar da importância e de ser rotina em hospitais ao redor do país e do mundo, um recente estudo conduzido por pesquisadores das Universidades de Medicina de Maryland e da Pensilvânia, e publicado no American Journal of Medicine, analisou prontuários de 177 pacientes e definiu uma lista com os cinco exames dispensáveis mais pedidos em hospitais nos Estados Unidos. No topo, estão os de tempo de protrombina e de tromboplastina parcial ativada, seguidos de testes de função hepática, exames de urina, de lactato no sangue e de troponina.
A pesquisa constatou ainda que, durante as primeiras 24 horas de internação dos pacientes, quase 90% deles fizeram ao menos um exame dispensável – sendo que, em média, eles foram submetidos a nove testes solicitados no primeiro dia de internação. Além disso, em mais de 70% dos casos o diagnóstico final não sofreu nenhuma alteração depois de analisados os resultados dos testes pedidos apenas para comprovação.
O método utilizado no estudo consistiu em separar a análise dos prontuários de duas formas: a primeira, realizada pelos pesquisadores, avaliou com base em evidências a necessidade da indicação daqueles exames para os pacientes; já a segunda, feita pelos médicos, fundamentou-se na capacidade desses profissionais de lembrar e classificar a utilidade dos testes pedidos. Quando confrontados os resultados, os cientistas relataram que os profissionais de saúde não se lembravam justamente dos exames que classificaram como dispensáveis. E, de acordo com os dados científicos coletados, mais da metade desses testes esquecidos não foram úteis para o diagnóstico e tratamento.

Apesar desse cenário, não são só as instituições de saúde dos Estados Unidos que precisam fazer ajustes na quantidade de exames prescritos. No Brasil, dados reunidos pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão vinculado ao Ministério da Saúde responsável pela regulação do mercado de planos de saúde, mostram que os médicos dessas operadoras privadas, quando comparados a profissionais de outros países também membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), pedem mais exames de ressonância e tomografia. A média anual de ressonâncias foi de 52 por mil habitantes em países da OCDE em 2016. No Brasil, o índice foi de 149 por mil beneficiários e, em 2017, passou para 158. Em relação a tomografias, em países da OCDE a média anual foi de 120 por mil habitantes em 2016. No sistema suplementar brasileiro, o número foi de 149 por mil beneficiários e, em 2017, nos mesmos parâmetros, subiu para 153.
Segundo os pesquisadores relataram no próprio artigo, esses exames desnecessários têm impacto negativo não somente nas questões financeira e operacional dos hospitais, como também para os próprios pacientes. Nesse sentido, o estudo e os dados apresentados pela ANS se tornam relevantes, principalmente, pelo momento que o mercado mundial de saúde vive – com a constante busca pela melhoria da experiência dos pacientes, pela redução de gastos dispensáveis e por maneiras de manter o setor sustentável.


















