A área da saúde passa pelo momento mais intenso de transformação digital no ano de 2021, momento que estimula a inovação e o empreendedorismo. Esse processo, embora tenha iniciado há mais de uma década, sofreu uma profunda aceleração a partir de 2020, em decorrência da pandemia da Covid-19.
“Apenas no primeiro bimestre de 2021, mais de 90 milhões de dólares foram investidos em health techs (startups que atuam no segmento da saúde) no Brasil, que correspondem a 85% do valor investido em todo o 2020, segundo pesquisa do Distrito”, demonstra o sócio e diretor de Operações da Nexodata, Cesar Giannotti. “Boa parte desse investimento ocorre pelas carências e oportunidades de melhoria no setor de saúde”, avalia.
Avanços durante a pandemia
Giannotti contextualiza que “a transformação digital no setor de saúde vem acelerando e tomando forma há mais de dez anos”. Inicialmente, as soluções estavam mais focadas em oferecer suporte na relação entre pagador e prestador de serviços na saúde. “Entretanto, nos últimos cinco anos, a transformação se intensificou no desenvolvimento de tecnologias voltadas para o aspecto assistencial, com um olhar maior para a relação médico e paciente”.
A pandemia, ao evidenciar desafios históricos, potencializou ainda mais esse processo. De acordo com Giannotti, a crise sanitária “trouxe um olhar diferente, principalmente sobre o aspecto do acesso, do acolhimento do paciente, da comunicação e da necessidade de derrubar barreiras”.
Os efeitos desencadeados pela pandemia exigiram soluções em tempo recorde. “Com o lockdown, nos deparamos com a necessidade de comunicação e continuidade do tratamento do paciente à distância, já que as pessoas não conseguiam frequentar clínicas, consultórios e até mesmo hospitais, e se relacionar com o médico da forma que estavam acostumadas no formato presencial”, explana.
“Especificamente sobre a Covid-19, vimos a necessidade ainda maior de informações relevantes para tomadas de decisão estarem disponíveis praticamente em tempo real para o profissional da saúde. A doença, com uma característica agressiva que muda a situação do paciente em questão de horas, exigiu uma integração maior entre sistemas e pessoas. Tudo isso contribuiu para muitos gestores inovarem e repensarem a forma de atuação em saúde”.
Nesse processo, uma série de serviços ganharam força, como a telemedicina e o laboratório em casa. Em relação aos atendimentos, houve crescimento em relação à atenção primária e ao médico de família. Giannotti cita, ainda, o surgimento das “plataformas de receita digital que conectam médico, paciente e farmácia, disponibilizando um serviço inédito e possibilitando compra de medicamento pela internet”.
Integração com foco no paciente
A intensa transformação vivenciada no setor da saúde é prova de que ainda há muitas mudanças a serem concretizadas nessa área e as oportunidades para empreender são inúmeras. Todas essas inovações estão construindo as novas perspectivas nos serviços relacionados ao segmento.
Para Giannotti, “o futuro da saúde vai passar a integrar, cada vez mais, o ecossistema como um todo, com foco em manter o paciente saudável no centro das tomadas de decisões”. Com isso, é possível prever o surgimento de novas tecnologias, modelos de gestão, práticas de condutas médicas e tratamentos destinados a melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas.
Ter um olhar voltado para a qualidade de vida e para a integração do ecossistema na área da saúde é fundamental para quem quer empreender no setor. Giannotti frisa, entretanto, que é indispensável o conhecimento aprofundado sobre esse mercado, que é bastante regulamentado e técnico, contemplando um grande número de especialidades e nichos.
Por conta disso, as health techs têm uma enorme demanda por mão de obra bastante qualificada, o que pode significar desafio a mais para empreendedores. “Por outro lado, é um dos últimos segmentos que estão passando por essa revolução digital, ainda apresentando muitas oportunidades de negócios”, aponta o especialista. “Muitas ideias surgem dia após dia”.
Acompanhar a evolução e as demandas do mercado e buscar profissionais altamente qualificados são partes importantes de um processo maior. “Na prática, o que pode fazer diferença é a capacidade de execução do empreendedor e de seu time, e a escalabilidade do negócio. Atrelado a tudo isso, é preciso ter um propósito grande de melhorar a condição de vida e o acesso à saúde no País”, aconselha Giannotti.