Um mito ainda muito presente na sociedade é o de que criança não se sente deprimida. A dificuldade dos pais em aceitar o fato de que seu filho pode, sim, estar sofrendo com a depressão aumenta a responsabilidade dos profissionais da saúde em identificar sinais e orientá-los a buscar ajuda especializada.
Devido às dificuldades no diagnóstico e importância de um acompanhamento próximo, falamos sobre as particularidades da depressão infantil e os sinais aos quais os profissionais da saúde – para além de psicólogos e psiquiatras – devem ficar atentos para identificá-la.
Como se manifesta a depressão infantil
Pela própria diferença no nível de amadurecimento, a depressão pode se manifestar de forma muito diferente em crianças em adultos. “Para a criança é muito mais difícil compreender ou verbalizar o que está sentindo, então os principais sintomas acabam sendo diferentes”, explica Ana Taveira, psiquiatra do Hospital Santa Mônica.
Mudanças nos comportamentos são os principais pontos aos quais profissionais da saúde, pais e educadores devem ficar atentos. “É muito comum que ela perca o interesse por atividades que costumava gostar”, afirma Angela Bley, coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Pequeno Príncipe.
Queda no rendimento escolar, isolamento de brincadeiras com outras crianças, maior agressividade ou agitação, alterações no sono e apetite e prevalência de desenhos com um tom negativo ou pessimista são alguns comportamentos que merecem atenção. Por ser difícil externalizar o que está sentindo, profissionais explicam que é também recorrente o surgimento de queixas de problemas físicos, como dores de barriga ou cabeça.
Importância do apoio à família
Para os pais, é difícil enxergar e aceitar que o filho pode estar precisando de ajuda. “Há tanto um preconceito com doenças psiquiátricas quanto dificuldade em aceitar que uma criança pode ficar deprimida. Temos a visão enraizada de que criança é sempre feliz”, observa Ana. Além disso, é comum que os pais se sintam culpados ou não saibam como lidar com a situação.
Nesse contexto, a orientação e apoio de um profissional de saúde podem ser determinantes para que os familiares consigam buscar ajuda de psiquiatras e psicólogos. Os pediatras costumam ser os mais presentes na vida da criança – embora outros profissionais também possam compor essa rede de apoio – e podem ser grandes aliados no encaminhamento médico.
“O vínculo do profissional com a família é um grande diferencial. É importante que ele consiga identificar as mudanças de comportamento e orientar os pais”, coloca Ana. Como ocorre com qualquer outra situação de saúde, o diagnóstico precoce facilita e aumenta a efetividade do tratamento. Por isso, o olhar atento é fundamental.