Cada dia está mais difícil decidir entre diferentes alternativas. Teve um tempo que diríamos – isto é melhor que aquilo, isto é bom, isto é ruim. Mas hoje as coisas estão extremamente complicadas. Cada vez criamos conceitos mais complexos. Veja a questão da escolha das vacinas. Qual é a melhor vacina?
A resposta deve ser a que tenha a melhor qualidade, a melhor eficácia, a melhor segurança e efetividade – e também seja eficiente. Faltou uma característica muito crítica: que seja acessível!
A questão da acessibilidade pode fazer com que se abra mão de algum dos outros atributos? Vamos definir melhor cada um cada um deles.
A eficiência certamente é o atributo mais compreensível de um produto ou processo. Representa a relação entre recursos despendidos versus resultados obtidos. Óbvio que o resultado deve ser bem definido, não deve pairar dúvida sobre como entender que o resultado foi atingido.
E por isso a definição de qualidade deve ser a segunda definição a ser avaliada. Qualidade é o conjunto de atributos que um produto ou processo deve ter para considerar aceitável um resultado. Essa concepção parece ser simples, mas é muito complexa. De certa forma, o que está dito é que qualidade é o atributo que deve ser igual ao desenho, ao protocolo, às condições previamente propostas. E isso tem uma outra consequência que é contraintuitiva – qualidade, no sentido de ser o que eu quero fazer (atributos definidos), não custa mais e nem menos. Assim, a eficiência deve ser encarada como uma escrava da qualidade. Interessa elevar a eficiência até o nível em que esta não comprometa a qualidade. Fazer mais com menos, portanto, está limitado pelas condições necessárias para realizar as entregas definidas inicialmente.
E a eficácia? Esta é a capacidade de produzir efeito. Deveria ser discutida antes da qualidade. Pois é sempre um atributo inerente de produtos e processos. Quando eu tenho um objetivo e o alcanço, sou eficaz. Se o produto sempre tiver as mesmas características do original terá também qualidade e um padrão de eficiência, ou seja, uma relação recurso/resultado.
Estes três conceitos quase sempre conseguem dar conta das decisões a serem tomadas nas organizações e também no cotidiano. Mas com frequência temos que nos defrontar com questões em que o impacto de determinadas ações não é individual e sim é coletivo. E aí parece existir duas eficácias – uma individual e outra coletiva. Com frequência, alguns teóricos tendem a chamar a primeira de eficácia no mundo ideal e a segunda de eficácia no mundo real. Mas não, as duas se dão no mundo real das organizações e das pessoas que devem tomar decisões.
À essa segunda eficácia se dá o nome de efetividade. Geralmente é usada quando nos referimos a resultados que tendem a medir o impacto de uma ação em uma população, ou o resultado da ação de uma organização em seu meio ambiente.
Atualmente, o exemplo mais impactante para analisar estes dois conceitos diz respeito à vacinação.
Para avaliar uma vacina, além dos conceitos acima descritos deve ser incorporado o conceito de segurança – ou seja, a vacina tem que garantir, antes de produzir qualquer efeito desejável, que não produzirá efeitos indesejáveis; ou se o fizer, que o balanço entre os desejáveis e os indesejáveis seja francamente positivo. Deve sempre prevalecer a norma hipocrática de primeiro não fazer o mal.
A seguir, se determina a eficácia desejada. No caso da vacina, o atributo a ser verificado será se a vacina desenvolve defesas contra a enfermidade que se quer controlar. E de saída, é preciso saber que não existe a eficácia de 100%. Embora possa ser uma meta, se for utilizada, pode inviabilizar a identificação de uma vacina.. Por exemplo, no caso da COVID-19, foi convencionado pela OMS que o mínimo aceitável seria que a vacina deveria ter uma eficácia de 50%, isto é, de saída se aceitou que de cada 100 vacinados, 50 estariam protegidos!
E os outros 50? Seriam protegidos pela imunidade conferida à população. Se todos ou a maioria tomar a vacina, a população estará protegida. A este fenômeno se dá o nome de efetividade da vacina e que está associado à imunidade coletiva ou de rebanho – quando, no caso desta doença, se protege ou vacina pelo menos 70% da população.
Voltando ao princípio – o que é fundamental? Certamente, acesso e custo, ou seja, eficiência. Por isso está tão em evidência a discussão da quebra de patentes. Mas essa discussão não cabe agora neste texto. A eficácia foi definida no início – no mínimo 50% e a efetividade será decorrente da cobertura – número de vacinas aplicadas em uma dada população.
A vacina eficaz, produzida em boas práticas de fabricação, terá qualidade; e se cobrir 70% da população, será efetiva.
A boa vacina é a aprovada pelas agências de vigilância sanitária e que esteja disponível!