Com certeza você já escreveu ou reescreveu um texto na sua vida. Seja na ponta da caneta ou em um computador, você risca palavras indesejadas, substitui por outras, procura por sinônimos, adjetivos, edita o texto e, por fim, conclui o trabalho. No universo da biologia celular, uma técnica semelhante de edição vem se tornando realidade e promete revolucionar o setor.
Trata-se do Crispr-Cas9, técnica de edição genética que foi publicada ano passado na revista Nature. Em resumo, agora cientistas podem remover partes deficientes do genoma e inserir células modificadas geneticamente para combater determinada doença, ou ainda editar a sequência do genoma e corrigir “partes” para evitar doenças genéticas.
A diferença do Crispr-Cas9 de outras técnias de terapia genética é que a quantidade de células que podem ser alteradas é incrivelmente maior. A edição no local preciso do gene defeituoso só é possível com o Crispr.
O impacto do Crispr-Cas9 nos tratamentos de saúde pode ser imenso. Imagine remover o vírus HIV das células humanas, ou modificar células embrionárias para um bebê não ter determinada doença?
Primeira experiência humana
Em outubro de 2016, uma equipe chinesa injetou células modificadas pela técnica Crispr-Cas9 em um paciente com câncer de pulmão. Essa ação faz parte de um estudo liderado pelo cientista You Lu, da Sichuan University.
A equipe removeu células imunes do sangue do paciente e, com a técnica Crispr-Cas9, desativou um gene. Essas células editadas foram cultivadas, aumentando seu número para, depois, serem devolvidas ao paciente. O objetivo é que essas células combatam o câncer até eliminá-lo. Ainda não há resultados publicados sobre o estudo.
Ratos recuperam visão
Pesquisadores do Instituto Salk, na Califórnia, programaram em ratos adultos uma forma de cegueira chamada retinite pigmentosa. Esse estudo foi publicado no final do ano passado.
Com genes defeituosos, a retina sofreu degeneração, e o rato ficou cego. As células da retina não podem se dividir, e essa é uma característica da maioria dos tecidos desenvolvidos como os órgãos e cérebro. A novidade foi justamente conseguir editar células que não se dividem e modificar o DNA, usando a técnica Crispr-Cas9.
Com isso, os pesquisadores conseguiram reverter a cegueira, e os ratos voltaram a enxergar, mas somente 5% das células defeituosas foram corrigidas.
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