O mundo conectado é uma realidade muitas vezes sufocante. Sacamos o smartphone do bolso de maneira quase automática, checamos uma rede social, uma mensagem e, quando notamos, nem lembramos o que estávamos fazendo. Essa realidade atinge boa parte da população usuária do aparelho – e profissionais da saúde também estão sujeitos.
São muitos os estudos que indicam os efeitos nocivos do uso abusivo do aparelho na saúde. Um deles, realizado na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, aponta que esse exagero prejudica a quantidade e qualidade do sono – o que, por sua vez, está associado a males como obesidade, diabetes e depressão. Outras pesquisas também ligam o uso excessivo a problemas na coluna e estresse.
Se para a população em geral estes efeitos por si já representam grande risco, a questão é ainda mais complexa para profissionais da saúde. Primeiramente por conta da quantidade de bactérias que um smartphone pode carregar – até 10 vezes mais do que um assento sanitário, segundo estudiosos da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.
No começo deste ano, na Itália, uma equipe de cinco cirurgiões tirou uma selfie com um paciente antes do procedimento dentro do centro cirúrgico – um ambiente que deveria ser estéril – e, cinco dias depois, o paciente veio a óbito. No Brasil, a prática é expressamente proibida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em qualquer situação que envolva o exercício da profissão, até mesmo nos consultórios.
Além do possível risco de contaminação, o abuso do smartphone no ambiente de trabalho pode atrapalhar o exercício profissional. Por exemplo, um médico que atende o paciente enquanto checa o aparelho está claramente dividindo sua atenção – logo, deixando de voltar-se completamente às necessidades do paciente.
“O telefone obriga o profissional a sair do curso de sua atividade para atender à demanda imposta pelo aparelho. Se for uma ligação, ele pode demorar uma média de cinco minutos para retomar a atividade inicial. Assim, realizar mais de uma tarefa ao mesmo tempo pode diminuir a produtividade em até 40%”, afirma Julieta Guevara, psiquiatra e diretora da Neurohealth.
Um levantamento publicado no periódico Perfusion feito com 439 técnicos de laboratórios e hospitais mostrou que 56% dos profissionais que monitoram máquinas utilizadas em procedimentos cardíacos falam ao celular durante as operações. Também descobriu-se que 49% deles enviam mensagens de texto, 21% checam seus e-mails e 15% navegam pela internet. Apesar das atitudes, cerca de 78% admitiu que a prática traz riscos ao paciente.
Sinais do exagero
Ter a necessidade de checar o smartphone a todo instante, até mesmo quando se está em consulta, é motivo de alerta. “A nomofobia é o medo de ficar sem o celular e pode ser identificada através de sintomas como incapacidade de desligar o telefone e preocupação contínua com a duração da bateria”, explica Sylvia van Enck Meira, psicóloga do Programa de Dependências Tecnológicas do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (PRO-AMITI) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP).
Quem verifica de maneira obsessiva chamadas não atendidas, e-mails e mensagens de aplicativos, se incomoda em ir a lugares onde o celular não funciona corretamente, ou sente-se mal quando o telefone está sem sinal, também deve tomar cuidado, pois estes também são sintomas da nomofobia.
Benefícios de diminuir o uso do smartphone
Desta forma, deixar o aparelho mais tempo guardado e menos tempo nas mãos pode trazer uma série de benefícios ao corpo e mente, a começar por evitar os efeitos do abuso citados acima, como problemas de sono e de coluna.
“Quando a pessoa aprende a fazer uso controlado do smartphone, diminui o cansaço e o estresse provocados também pelos inúmeros estímulos recebidos”, diz Meira.
A especialista também afirma que, quando isso ocorre, a segurança na movimentação e circulação pelas vias públicas aumenta, evitando acidentes. Além disso, a comunicação presencial pode ser mais expressiva, evitando distorções e mal entendidos – algo essencial quando se está atendendo um paciente.
A produtividade também só tem a ganhar. “O indivíduo passa a focar sua atenção no desenvolvimento da atividade, permitindo que o trabalho flua sem distrações”, completa Meira.
Como estabelecer limites para si mesmo no uso do smartphone?
Caso você tenha observado que vem exagerando no uso do celular, a psicóloga Sylvia van Enck Meira dá dicas práticas para controlar a situação:
- Observar quais situações funcionam como um “disparador” do desejo de usar o aparelho;
- Delimitar o tempo do uso em situações absolutamente necessárias;
- Criar intervalos “proibidos” de uso;
- Deixar o celular em um lugar distante;
- Não levar o aparelho para o dormitório no momento de dormir;
- Evitar manter o smartphone sobre a mesa durante as refeições e checar atualizações a toda hora;
- Organizar uma agenda para uma rotina diária, que inclua atividades que envolvam sua vida profissional, social e familiar, assim como lazer e cuidado com o corpo;
- Excluir de seus aparelhos os inúmeros aplicativos e sites desnecessários, mantendo apenas aquilo que é absolutamente importante;
- Estabelecer um tempo e horário para seu lazer digital e procurar cumpri-lo.



















