Reconhecida por deixar a pele seca, com crostas e erupções que coçam, a dermatite atópica (DA) – ou eczema atópico –, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), tem origem genética, é considerada crônica e não é contagiosa. Além disso, é um dos tipos mais comuns de doença de pele, uma vez que, afeta quase 10% dos adultos ao redor do mundo. Apesar de não ser uma regra, a DA pode também vir acompanhada de asma ou rinite alérgica. Um estudo recente publicado pela British Medical Journal (BMJ), no entanto, atestou também que adultos com esses sintomas graves da doença de pele são mais propensos a desenvolver problemas cardiovasculares quando comparados a pessoas que não possuem a condição.
Os pesquisadores descobriram que os pacientes com sintomas de DA graves tiveram um aumento de 20% no risco de acidente vascular cerebral (AVC); de 35% a 40% no risco de angina instável, infarto do miocárdio, fibrilação atrial e parada cardíaca; e de 70% no risco de insuficiência cardíaca. Também concluíram que adultos com a doença de pele eram de 10% a 20% mais propensos a sofrer um infarto do miocárdio não fatal, angina instável, insuficiência cardíaca, fibrilação atrial ou AVC do que aqueles sem a doença. Em geral, a DA grave ou predominantemente ativa está associada a um risco aumentado de desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
Para chegar a essa conclusão, a pesquisa de coorte populacional comparou os registros médicos de 387.439 adultos com a doença de pele (sendo 66% mulher, com a média de idade de 43 anos) aos de 1.528.477 adultos sem a condição. Foram classificados como portadores de DA moderada os pacientes que receberam duas prescrições de corticosteroides tópicos em um único ano ou um tratamento com inibidores tópicos da calcineurina. Por outro lado, os pesquisadores definiram a condição como grave naqueles que receberam tratamentos com fototerapia, imunossupressores sistêmicos ou encaminhamento do provedor de cuidados primários para o cuidado com a DA. Todos esses dados foram contrastados a partir de idade, sexo e práticas gerais em relação à condição de 1998 a 2015, e os participantes foram acompanhados por uma média de 5,1 anos.
Segundo os autores, apesar de estudos anteriores já terem realizado ligações entre a DA e o desenvolvimento de doenças cardiovasculares – um deles, por exemplo, associando o fato ao aumento da ativação plaquetária e diminuição da fibrinólise, o que eleva o risco de coagulação, e outro não encontrando ligação alguma com os níveis metabólicos –, essa correlação apresenta inconsistência na literatura médica. Ainda assim, há evidências crescentes de que a inflamação sistêmica associada à DA pode sim, aumentar o risco de doenças cardiovasculares. “Como a DA é tão comum, até mesmo um pequeno aumento no risco de doença cardiovascular pode ser importante do ponto de vista da saúde pública,” afirmam Sinéad Langan e Richard Silverwood, dois dos autores do estudo e, respectivamente, professora associada e professor assistente da faculdade de Epidemiologia e Saúde da População da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.
Sinéad e Silverwood ainda reiteram que, por conta dos resultados consistentes, foi encontrado um risco maior de doenças cardiovasculares do que o esperado em pacientes com a doença de pele. “Se esses resultados forem levados em consideração, podem ser de grande ajuda para o desenvolvimento de uma triagem direcionada e uma estratégia específica de prevenção para reduzir o risco de doenças cardiovasculares entre esses pacientes”, concluem os pesquisadores.