A possibilidade de reinfecção pelo coronavírus tem sido mais um viés da Covid-19 que mobiliza comunidades médicas e científicas no mundo inteiro. Um estudo sobre o tema, publicado na revista JAMA Internal Medicine, da American Medical Association, aponta que pessoas com evidências pelo contágio do SARS-CoV-2 estariam mais protegidas contra a reinfecção.
“As pesquisas recentes indicam redução de cerca de 50% de chance de reinfecção em indivíduos que contam com anticorpos para Covid-19 por terem sido contaminados anteriormente ou por já estarem vacinados”, afirma Marcos Cyrillo, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
O estudo relatado no JAMA Internal Medicine envolveu resultados de testes de mais de 3 milhões de pacientes analisados por meio de parcerias entre cientistas do National Institutes of Health (NCI), duas empresas de análise de dados de saúde (HealthVerity e Aetion) e cinco laboratórios comerciais. Apesar da amostragem robusta em solo americano, os autores enfatizam que há limitações em seu trabalho, especialmente pelo fato dos resultados se originarem de uma interpretação científica de dados do mundo real (laboratórios comerciais), que não seriam tão bem controlados como informações obtidas em ensaios clínicos padrões.
De qualquer maneira, essas investigações jogam luz ao comportamento da nova doença e complementam subsídios para embasar algumas decisões de governos, como priorização de grupos de vacinação ou reabertura de escolas.
Duração da proteção
A memória imunológica contra a Covid-19 é outra questão ainda sem respostas definitivas. “Por enquanto, pesquisas demonstram que os anticorpos de memória protegem durante o período de 6 a 8 meses”, esclarece o infectologista Marcos Cyrillo. “A proteção e o período de sua duração vão variar de acordo com o estado do paciente; se ele apresentar comorbidades, as reações provavelmente serão diferentes”, acrescenta o médico.
Outra frente de pesquisa sobre a pandemia, desta vez capitaneada por especialistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa (IDOR) e a empresa chinesa MGI Tech Com trazem nova surpresa. Indica que uma primeira exposição à Covid-19 em casos brandos ou assintomáticos pode não produzir resposta imunológica. Ou seja, isso abriria brecha para uma reinfecção até pela mesma variante do vírus.
O estudo também revela que há riscos da segunda infecção provocar sintomas mais fortes do que a primeira. No caso de um contágio por outra cepa do coronavírus, a razão é atribuída à falta de memória imunológica do invasor ligeiramente diferente.
Desde que a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou o surto de Covid-19 como Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional, em janeiro de 2020, as condutas médicas vão sendo modificadas e aprimoradas. A compreensão da resposta imunológica balizará as campanhas de vacinação e ajudará na retomada das atividades econômicas dos países.
A vacinação é considerada a maior conquista da Medicina. Veja aqui: a linha do tempo do desenvolvimento dos principais imunizantes, na matéria Vacinas: Três Séculos de História.