Mentir em uma entrevista de emprego é uma postura altamente condenável – afinal, essa atitude logo causa uma quebra na relação de confiança entre empregador e contratado, que está se iniciando com a entrevista.
No entanto, essa situação se torna ainda mais grave se considerarmos que, na área da saúde, detalhes podem custar a saúde de um paciente. “Todos nós, profissionais deste setor, temos um código de ética. Quando se mente em uma entrevista e se promove uma informação falsa sobre si mesmo, pode-se até estar infringindo seu próprio código”, diz Rita Calegari, psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.

Mentirinha ou mentirão?
Omitir ou acrescentar informações falsas é uma prática corriqueira no mercado de trabalho, que pode causar consequências em várias dimensões. No geral, há quem minta a respeito do domínio sobre um idioma ou software.
“Já na área da saúde, vi muitos profissionais dizerem que não fumam, por ser uma exigência da instituição, mas que são fumantes. Depois de contratados, eles acabam interrompendo diversas vezes o plantão para fumar, o que acaba prejudicando o atendimento aos pacientes”, comenta Aline Mendonça, coach e especialista em Gestão de Recursos Humanos.
De acordo com Mendonça, também é comum mentir a respeito da disponibilidade. Visto que diversos profissionais da saúde trabalham em escalas diferenciadas, como a 12/12 e plantões de 24 horas, há quem procure outro emprego para preencher as horas desocupadas. Porém, quando os plantões de ambos empregos coincidem, isso acaba desestruturando as escalas de todos os profissionais da equipe, que precisam se virar para preencher a lacuna no atendimento.
Além de questões mais relacionadas ao administrativo – que, não se engane, também podem causar diversas consequências –, há mentiras ligadas à prática profissional que podem afetar a vida dos pacientes para sempre. É o caso daquelas referentes a especializações, técnicas e manobras em saúde. “É comum encontrarmos casos de cirurgias plásticas cujos pacientes até vão à óbito e, quando o Conselho Regional de Medicina checa, o médico sequer tem especialização em cirurgia plástica”, exemplifica Calegari.
De acordo com a psicóloga, “incrementar” a experiência profissional para deixar o currículo mais atrativo também é uma prática tão habitual quanto danosa. “O candidato precisa saber que instituições com processos de RH rigorosos vão verificar cada informação que consta no currículo, exigindo comprovante de tudo. Caso se comprove a mentira, a relação já ficará totalmente fragilizada, afinal, se a pessoa mente em algo pequeno, também poderá fazer o mesmo em outras questões”, aponta.
Lidar com impasses administrativos é apenas um dos resultados que mentir em uma entrevista de emprego pode causar. “Precisamos lembrar que quem faz isso se expõe ao risco de provocar um evento negligente ou imperícia em algum paciente, afinal, ele dirá que é capaz de fazer algo que não é. O candidato se expõe a um risco gravíssimo, com repercussões jurídicas sérias”, alerta Calegari.
Precisa mentir?
Essa atitude não apenas é extremamente contraindicada como, também, desnecessária. “As instituições se preocupam em treinar e capacitar seus profissionais, com educação continuada, treinamentos muitas vezes mentais e desenvolvimento de pessoas. É compreensível que o profissional tenha lacunas na formação, mas o mercado vai absorvê-lo mesmo assim”, orienta Calegari.
O comportamento mais ético e indicado é admitir tais lacunas, correndo atrás para preenchê-las. “A mentira só traz frustração ao candidato e ao empregador. É melhor aguardar uma vaga de acordo com suas capacidades e valorizar seu currículo como puder, sem inventar. Lembre-se de ler todo o perfil da vaga e apenas se candidatar se puder cumpri-lo”, finaliza Mendonça.


















