O professor Prahalad, um indiano que terminou sua vida ensinando administração nos EUA, entre seus ensinamentos dizia que o maior inimigo do sucesso de amanhã é o sucesso de hoje. E isso é uma verdade bastante comprovável por todos nós. Em time que está ganhando não se mexe! Eu sempre fiz desse jeito e sempre ficou muito bom. Enfim, existe um sem-número de situações que eu poderia exemplificar aqui sobre como Prahalad está coberto de razão.
É por causa desse aconchegante espaço do sucesso de hoje que a Kodak fechou as portas. Ela não soube se reinventar quando o mundo analógico foi engolido pelo mundo digital, quando a máquina fotográfica perdeu seu papel. Existem muitos exemplos disso. E do contrário disso também. Parece ser mais ou menos óbvio que inovar seja uma maneira de gerar riqueza e empregos no país. Se a Embraer tivesse seguido esse objetivo secundário – gerar empregos com inovação –, seu destino teria sido o mesmo das nossas seguidas tentativas de ter uma indústria naval – nem inovamos e nem geramos empregos e continuamos importando plataformas de petróleo. Em vez disso, a Embraer olhou para o mundo e viu que o modelo para construir aviões não era ter uma fábrica de motores, de sistemas computadorizados, etc. Mas sim que tinha que aprender a projetar aviões, identificar os melhores produtores de partes do avião no mundo e integrar seus produtos em um projeto que fosse econômico, confortável e ocupasse um nicho com menos concorrência, como é a aviação executiva e a regional. A empresa aproveitou um modelo de construção mundial comprando peças melhores a preços mais baixos e criando um produto altamente valorizado. E gerou empregos e valor para o país.
Inovar é sair da zona de conforto, correr riscos com apostas que levem em conta o risco de errar por tentar fazer o diferente confrontando o risco de perder espaço no mercado por não se mover frente às mudanças ambientais, que o nosso tempo tem produzido com uma violência e velocidades alucinantes.
Na saúde, estamos parados em um modelo de gerar inovações com todos esses defeitos. Não conseguimos sequer montar um modelo assistencial mais inteligente que dê respostas às necessidades epidemiológicas e ao que é a demanda autogerada pela medicalização excessiva de nossa sociedade. A solução existe, e algumas singulares estão implantando essa inovação chamada de Atenção Primária à Saúde (APA). Mas isso é inovar? Sim, isso, tão antigo e propalado em uma reunião realizada em 1978 (Alma Ata), é a inovação que equaciona o problema da integralidade da atenção, quando bem desenhado e pensado para uma população, em um território e com um perfil epidemiológico minimamente estudado.
Inovar significa criar novas respostas para um mundo em transformação contínua. E as novas respostas podem estar em ideias abandonadas, como o caso da APS.