O consumo de carboidratos é um tema amplamente debatido pelos cientistas e também pela mídia, ora visto como vilão das dietas e outras como um elemento necessário para a nutrição diária. Recentemente, o tema foi escolhido como objeto de estudo de uma pesquisa de coorte feita ao longo de 25 anos, com mais de 15 mil pessoas nos Estados Unidos. O estudo, publicado no The Lancet Public Health, avalia a proporção de calorias consumidas por grupos populacionais e quais as relações diretas com a saúde destes indivíduos.
A pesquisa acompanhou 15.428 adultos, entre 45 e 64 anos, de quatro comunidades norte-americanas que responderam a um questionário sobre a sua dieta diária em um estudo de risco de arteriosclerose. A associação foi entre o percentual de energia proveniente da ingestão de carboidratos e a mortalidade por todas as causas, explicando possíveis relações não lineares neste grupo populacional. Dentre os alimentos que representam alto índice de carboidratos estão os ricos em amido como batatas, macarrão, pães, arroz, além do açúcar e vegetais.
Após 25 anos de acompanhamento, os dados coletados revelaram que aqueles que tiveram entre 50% e 55% da sua fonte de energia centrada em carboidratos (< 600 kcal ou> 4,2 mil kcal por dia para homens e <500 kcal ou> 3,6 mil kcal por dia para mulheres) tinha um índice de mortalidade menor dos que os que consumiam abaixo ou acima da média de carboidratos recomendados diariamente.
De acordo com o artigo, foi percebida uma alteração na expectativa de vida daqueles que consumiam carboidratos abaixo ou acima do recomendado. A média recomendada, conforme as necessidades nutricionais do indivíduo, está entre 50% e 55%.
A pesquisa usa como exemplo os participantes com 50 anos, que consomem carboidratos abaixo ou acima da média. Para aqueles que ingerem menos de 30%, a expectativa de vida é 4 anos menor do que o grupo que consome o recomendado. Neste grupo se enquadram aqueles com dietas chamadas “low carb”. Já aqueles que se alimentam com uma média acima de 65% podem viver até 2 anos a menos.
O resultados não são inéditos e foram comparados com pesquisas de 20 países, nas quais os pesquisadores puderam perceber resultados semelhantes que reforçam a ligação entre o consumo regular de carboidratos e o tempo de vida da população.
No artigo também foram realizados dados comparativos entre as dietas para apontar quais têm maior impacto sobre a expectativa de vida. Dentre elas foi percebido que comer mais carnes bovina, suína, de frango, de cordeiro e queijo, no lugar de carboidratos, estava relacionado a menor expectativa de vida. Assim como a substituição de carboidratos por proteínas e gorduras de origem vegetal, como legumes e nozes, foi, por sua vez, associada a uma ligeira redução desse risco.
O estudo sugere que as famosas dietas de substituição dos carboidratos por proteínas animais sejam reavaliadas, pois cada vez mais as pesquisas têm mostrado que este tipo de troca pode ser responsável por causar uma diminuição na expectativa de vida da população. O ideal é encontrar um equilíbrio para que essa substituição ocorra de forma equilibrada.
Com base nas informações obtidas, os pesquisadores afirmam que as dietas ocidentais tendem a restringir carboidratos criando um desequilíbrio nutricional, pois aumentam o consumo de proteínas e gorduras animais e diminuem a ingestão de legumes, verduras, frutas e grãos. Como consequência, este tipo de alimentação pode causar mais quadros de inflamações, envelhecimento do corpo e impactando diretamente na longevidade de quem pratica.
No artigo, eles deixam claro que ainda são necessárias mais pesquisas para esclarecer melhor a relação sobre o consumo de proteínas e gorduras animais com a diminuição da expectativa de vida da população. As dietas tendem a mudar ao longo das décadas, e o que era consumido há 25 anos pode não ser o mesmo que as novas gerações utilizam. No entanto, a pesquisa abre portas para que os próximos estudos possam elucidar ainda mais esta questão.
Para saber mais sobre a pesquisa, acesse o link:
https://www.thelancet.com/journals/lanpub/article/PIIS2468-2667(18)30135-X/fulltext
Veja outras matérias semelhantes: