A maioria das pessoas com obesidade já passou por algum tipo de preconceito pelo excesso de peso. É o que mostra uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).
De acordo com os dados de 3.621 pessoas, coletados on-line em fevereiro deste ano, 85% disseram ter sentido algum tipo de constrangimento. Uma informação que chama atenção é o local onde esses indivíduos relataram o ocorrido: o ambiente familiar foi o mais citado (72%), seguido de lojas e comércio em geral (65,5%), serviços de saúde, por parte dos médicos, (60,4%) e no trabalho (50,7%).
Entre os 13% de pacientes que procuraram ajuda no Sistema Único de Saúde (SUS), 62% disseram que não se sentiram confortáveis e acolhidos no atendimento. A situação ocorre com maior frequência quanto maior o grau de obesidade da pessoa.
Os dados relatados nesta pesquisa mostram que a gordofobia pode afastar os pacientes do consultório – além dos outros locais citados. E é exatamente por isso que os profissionais da saúde, seja da rede pública ou privada, devem oferecer acolhimento livre de julgamentos para essas pessoas. Até porque a obesidade é considerada uma doença que envolve diversos fatores que vão além da “falta de vontade”.
“Sabemos que, na realidade, a obesidade é uma doença que sofre influência de diversos fatores como a genética, estilo de vida, estresse, existência de outras doenças associadas, alguns tratamentos medicamentosos, além de, claro, o tipo de alimentação que aquela pessoa segue. Não é uma escolha individual, mas consequência de uma confluência de fatores”, afirmou a endocrinologista Maria Edna, presidente do departamento de obesidade da SBEM, ao UOL.
No entanto, de acordo com o levantamento, 30% das pessoas com sobrepeso importante acreditam serem culpadas por aquela condição e não buscam ajuda profissional.
Mas a realidade é que é uma doença multifatorial e o paciente precisa saber disso, já que a causa da obesidade pode envolver genética, estilo de vida, estresse, existência de outras doenças associadas, alguns tratamentos medicamentosos e o tipo de alimentação que aquela pessoa segue.
A pesquisa, inclusive, mostrou que 70% das causas da obesidade podem estar associadas a fatores hereditários relacionados à genética, histórico familiar e etnia. Por isso, o tratamento adequado consiste em diversos fatores, como:
- reeducação alimentar;
- prática de exercícios físicos;
- acompanhamento multidisciplinar que ampare o lado físico e emocional;
- medicação, dependendo do caso.
Saiba como se comunicar com o paciente
Um grupo de profissionais de saúde e pesquisadores do Reino Unido fizeram um artigo, publicado no periódico The Lancet em maio de 2020, com orientações práticas, destinadas principalmente aos profissionais de saúde para poder acolher melhor as pessoas que têm obesidade.
Para eles, palavras como “obesos” e “obesos mórbidos” são tidas como negativas, por mais que sejam usadas por profissionais de saúde. Em vez disso, o mais recomendado é utilizar expressões como “que tem (ou convive) com a obesidade”, já que a doença não define a vida daquela pessoa – inclusive, isso vale para outros problemas de saúde.
O documento trouxe alguns exemplos do que evitar ao falar com um paciente com obesidade, pontuados pelo blog da nutricionista Sophie Deram.
- Em vez de: “tenho certeza que os problemas que você tem são todos relacionados ao peso”, experimentar: “Você se importaria se falássemos sobre o seu peso?”.
- Tente trocar algo como “com o seu peso, você realmente precisa fazer mais exercícios” por “É fantástico que você esteja praticando natação. Não se preocupe, seu peso ainda não caiu, mas o benefício para sua saúde vai além da perda de peso”.
- Evitar: “Seu IMC ideal, que é a sua altura em relação ao seu peso, deve estar entre 18 e 25kg/m²… entre 30 e 35kg/m² você é considerado obeso… pelas medições que fez hoje, certamente se enquadra nessa categoria”. Prefira: “Como você disse, seu peso subiu… “; “Você disse que gostaria de perder algum peso porque está se sentindo sem fôlego …”.
Lembre-se que esse acolhimento aos pacientes, além de ser mais humanizado, garante o bom funcionamento do tratamento. Falar sobre obesidade, sem estigmas, e lidar melhor com quem está com excesso de peso é muito importante. Todo mundo sai ganhando.