Meu nome é Vitor Asseituno, sou médico formado pela Escola Paulista (Unifesp), fiz MBA em Finanças pela FGV e trabalhei com investimentos em tecnologia e startups para saúde no Brasil e nos EUA. Hoje, lidero três dos principais eventos do setor da saúde: como diretor de Mercado na UBM Brazil, empresa britânica responsável pela Feira Hospitalar, o fórum de CEOs Saúde Business Fórum e o evento Healthcare Innovation Show, principal evento de inovação e tecnologia em saúde no Brasil.
A partir de agora, serei colunista do Portal Conexão da Seguros Unimed, com a missão, entre outras coisas, de falar sobre tendências e os assuntos mais relevantes para o segmento de saúde hoje.
“O que você come?” me lembrou de três mudanças fundamentais pelas quais o setor está passando, algumas mais, outras menos silenciosamente. Achei relevante discutir esses tópicos, pois trazem cenários totalmente inéditos para nós, e para os quais a maioria não está preparada.

Mudança Número 1 – Nutrição
O famoso “Você é o que você come” nunca foi tão importante. Em um momento em que vencemos, por meio de saneamento básico e vacinação, boa parte das doenças infectocontagiosas, o que realmente afeta a nossa saúde (e o custo do sistema todo) hoje são as doenças crônicas, e a maior parte delas causadas por má alimentação e excesso de peso. Considerando que o exercício físico nos torna mais sadios, mas tem um efeito menor sobre a perda de peso, a nutrição é o fator populacional mais importante para a sustentabilidade do setor de saúde em todo o mundo. E parece que menos gente do que deveria está prestando atenção real em uma mudança tão fundamental.
Mudança Número 2 – A velha equação
Estive em uma apresentação do Sérgio Ricardo, CEO da Amil, na Feira Hospitalar, há 2 semanas, em que ele falou sobre a mudança do modelo de remuneração (de fee-for-service para fee-for-value). Eles são possivelmente a operadora de saúde que mais está tendo sucesso na transformação de um modelo muito ruim para um modelo um pouco mais meritocrático e moderno de que precisamos urgentemente.
Nessa transformação, ele disse uma frase que achei icônica para o momento em que vivemos, algo como: “O modelo tem que ser bom também para o prestador, não apenas para o pagador. Senão, no momento seguinte, o prestador volta a trabalhar no modelo antigo.” Diferentemente de uma cultura tradicional de tubarão come peixinhos, que construiu boa parte das organizações do setor que existem hoje, essa cultura de ganha-ganha e transparência é algo novo e necessário. Não vou ser inocente e dizer que o tamanho não importa mais, mas é incrível ver que os tubarões estão adotando dietas mais saudáveis.
Mudança Número 3 – Inexorável tecnologia
Estive há poucas semanas no IT Fórum e assisti a uma curta apresentação do Pablo Cavalcanti, CEO da InMetrics. É clichê dizer que a tecnologia está mudando todos os setores, como bancos (Nubank), entretenimento (Netflix), transportes (Uber), viagens (AirBnb), entre outros. A saúde não tirou nenhum bilhete premiado e também não ficará fora dessa. Essa tendência foi eternizada nos EUA na famosa frase de Marc Andreessen no The Wall Street Journal: “Software is eating the world” (o software está devorando o mundo). Mas, nesse evento de que participei, o Pablo trouxe para mim uma visão nova no melhor estilo Pac-Man/cadeia alimentar, algo como: “se o software está devorando o mundo, temos que comer software.”
Essa é talvez, entre as três, a mudança mais fundamental. Primeiro, a tecnologia será capital para alcançarmos a mudança de comportamento (entre elas, nutricionais) que nunca alcançamos antes (potencializando, por exemplo, nossos smartphones). Segundo, não é possível fazer Value-Based Healthcare no Excel. Todos os ajustes de risco, como intervenções, personalizações por indivíduo, pagamentos parciais, ajustes financeiros, para milhões de beneficiários ao mesmo tempo, com algoritmos sendo alterados automaticamente e em tempo real conforme se aprende mais sobre a saúde e os fatores de risco populacionais, requer MUITA tecnologia.
O que decide ou não comer, na vida pessoal, no seu desenvolvimento profissional e nos relacionamentos da sua empresa com o mercado, será decisivo no futuro do setor. “Decifra-me ou te devoro” é o que nos coloca o setor todos os dias, em cada relação, em cada decisão e em cada refeição. Podemos entrar para a história ou virar história. E você, o que você come?



















