A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) publicou, em 2017, a sexta edição do Mapa Assistencial da Saúde Suplementar. A pesquisa, que traz dados sobre procedimentos realizados pelos beneficiários de planos de saúde, contabilizou, nesse ano, mais de 1,51 bilhão de consultas médicas, outros atendimentos ambulatoriais, exames, terapias, internações e procedimentos odontológicos. Em relação ao que foi registrado 2016, o aumento foi de 3,4%.
Dentre as consultas, as especialidades de clínica médica (28 milhões), ginecologia e obstetrícia (19,8 milhões) lideram o ranking. Já entre os exames, radiografia (33 milhões), hemoglobina glicada (12 milhões) e ressonância magnética (7,4 milhões) são os que mais ganham destaque. Ao todo, em 2016, foram realizados quase 797 milhões de exames. No ano seguinte, o número chegou perto dos 817 milhões, registrando aumento de aproximadamente 2,5%.
A título de comparação, dados do estudo da ANS mostram que os médicos de operadoras de planos de Saúde brasileiras, quando comparadas a informações reunidas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), pedem mais exames de ressonância e tomografia do que profissionais de outros países também membros da Organização. Em 2016, em países da OCDE, a média anual de ressonâncias foi de 52 por mil habitantes. No Brasil, o índice passou de 149 por mil beneficiários nesse ano para 158, em 2017. Em relação às tomografias, a média anual em 2016 em países da OCDE foi de 120 por mil habitantes. No sistema suplementar brasileiro, o número passou de 149 por mil beneficiários nesse mesmo ano para 153 no ano seguinte.
Algumas razões para a grande quantidade de procedimentos realizados são interesses financeiros – sobretudo por conta do modelo de remuneração fee-for-service, comumente usado pelas instituições, que acaba privilegiando o número de intervenções em detrimento da qualidade do desfecho – e falhas na formação médica. Além disso, até mesmo a crença difundida na sociedade de que, para se ter certeza de que a pessoa está bem, ela precisa ser examinada com frequência.
O excesso de exames, na verdade, pode ser mais maléfico do que benéfico. Isso porque, em alguns casos, leva ao sobrediagnóstico e, consequentemente, ao sobretratamento. O sobrediagnóstico ocorre quando um paciente sem sintomas é diagnosticado com uma doença que não causaria sintomas, nem levaria o indivíduo diagnosticado à morte. Já o sobretratamento está relacionado ao excesso de prescrição de medicações ou procedimentos com finalidade de cura, sem a garantia de que essa intervenção necessariamente resultará em benefícios ao paciente.
Como evitar exageros
Marcos Guilherme Malago, médico de família do Serviço de Atenção Primária à Saúde da Unimed Jaboticabal, afirma que o profissional precisa seguir justamente as evidências científicas para fechar os diagnósticos. “A recomendação dos rastreios, ou seja, dos exames necessários para determinado paciente, deve ser baseada no nível de evidência científica com grau de recomendação A, da Oxford Center for evidence-based medicine, que padroniza procedimentos diagnósticos, terapêuticos e preventivos”, explica ele.
Além disso, o especialista pontua que o profissional pode utilizar o método de Prevenção Quaternária (P4). Esse conceito privilegia ações preventivas em pessoas ou grupos populacionais, visando reduzir a ação e o impacto de doenças e diminuir o número de intervenções médicas desnecessárias. Além disso, a P4 chama atenção para o perigo do adoecimento iatrogênico – causado por ou resultante de uma intervenção médica – e a medicalização desnecessária.
“Para melhorar a eficiência no atendimento, é fundamental que o profissional realize uma boa anamnese, fazendo as perguntas necessárias ao paciente e cruzando dados de forma correta. Assim, ele reunirá o maior número de informações possível a fim de realizar o diagnóstico mais preciso. Também é importante o exame físico do paciente”, recomenda Malago.


















