Na pandemia de covid-19, houve um aumento do sofrimento psicológico, dos sintomas psíquicos e dos transtornos mentais. Muitas pessoas em tratamento relataram , enquanto outras desenvolveram diversos problemas relacionados à saúde mental. As consequências do isolamento, aos poucos, vão aparecendo.
Uma delas foi o aumento de casos de bruxismo nos primeiros meses da pandemia. De acordo com um estudo publicado no Brazilian Journal of Pain, no dia 4 de março deste ano, os participantes relataram sentir-se nervosos ou estressados durante o período de afastamento e mencionaram sintomas de bruxismo.
Como o estudo foi feito e os principais resultados
Os pesquisadores da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG) e do Instituto Neurológico de Curitiba (INC) entrevistaram, pela internet, 1.476 pessoas entre maio e agosto de 2020.
As perguntas do questionário envolviam perguntas sobre informações sociodemográficas, sintomas de bruxismo, qualidade de vida e autocompaixão. Confira os principais achados do estudo:
- 1.265 (85,70%) dos participantes declararam apresentar apertamento diurno;
- mais da metade dos entrevistados (843, 57,11%) relatou ranger de dentes;
- 1.054 (71,41%) relataram tanto apertamento quanto ranger de dentes;
- a maioria dos entrevistados (1.128 ou 76,42%) relatou percepção negativa dos sintomas de bruxismo no último mês;
- todos os participantes (1.476, 100,00%) estavam se sentindo nervosos ou estressados durante o período de isolamento induzido pela pandemia;
- 289 (19,58%) pessoas iniciaram sintomas de fadiga ou dor nos músculos da face ao acordar;
- 318 (21,54%) iniciaram com fadiga muscular e desconforto nos dentes ao acordar.
Para os pesquisadores, há uma evidente correlação entre emoções negativas e sinais de bruxismo que evidencia a necessidade de ações preventivas e de tratamento para os sintomas, como dor de cabeça, mandíbula travada e fadiga muscular.
“Fizemos a pesquisa esperando um aumento nos sintomas de bruxismo, mas não tanto quanto apresentou a amostra. As oscilações da pandemia, com novas cepas e o aumento no número de casos ainda impactam a população, e precisamos pensar em como diminuir o risco destas disfunções“, disse Marcelo Lourenço da Silva, professor da Faculdade de Fisioterapia na Unifal-MG, à Agência Bori.
Além do bruxismo
Neste mesmo estudo, os pesquisadores notaram que outras manifestações orais também apareceram entre os entrevistados, devido ao apertamento dentário, além da diminuição das atividades físicas e sociais, bem como mudanças no horário do sono.
Entre os participantes, 85,77% relataram uma percepção de estalidos articulares, dor no ouvido (78,50%), dor atrás do ouvido (63,21%) e fadiga mandibular (64,84%).
No artigo, os autores explicam que esses sintomas são características da DTM, “um grupo de distúrbios envolvendo os músculos mastigatórios, a articulação temporomandibular e estruturas associadas”, de acordo com a Academia Americana de Dor Orofacial (AAOP).
Segundo o estudo, as DTM têm uma etiologia multifatorial e, entre elas, a sobrecarga gerada pelo bruxismo diurno e noturno. Por isso, é importante que os pacientes sejam tratados corretamente, seja com fisioterapia, medicamentos, além de mudanças na rotina (como comer devagar, evitar chicletes e deixar de roer a unha).