Criar um ambiente de excelência em cuidados clínicos, por meio de ações efetivas, é uma condição essencial para as instituições de saúde. Nesse sentido, as organizações, que sinalizam comprometimento com o aprimoramento contínuo de sua gestão, estão um passo à frente. Para tornar essas práticas realidade, diversos hospitais têm adotado estratégias de governança clínica.
O que é Governança Clínica?
O conceito de governança clínica é amplo e engloba diversos setores do hospital, desde o assistencial até o administrativo, em uma busca contínua para agregar valor à assistência.
A governança clínica se resume na adoção de metodologias, protocolos e ferramentas de medição, tão importantes neste contexto, quanto treinamentos, orientações e o genuíno envolvimento orgânico das equipes em cada etapa do processo de gestão.
Uma das instituições brasileiras, que têm usado a governança clínica em sua gestão, é a Rede Mater Dei de Saúde, de Belo Horizonte. Na instituição, a avaliação contínua de indicadores começou a ser aplicada na segunda metade dos anos 1990, evoluindo para um novo modelo mais robusto, que passou a se efetivar em 2004. Nessa época, a instituição começou a aplicar a análise crítica PDCA, sigla em inglês para a sequência Planejar, Executar, Checar e Agir. Este é um ciclo que se repete cada vez que há uma alteração em algum processo. No começo, havia 13 equipes na análise crítica. Atualmente, são 24. A metodologia estimula e exige uma maior integração entre as clínicas do hospital, por meio de protocolos sistêmicos.
Segundo a vice-presidente assistencial, operacional e diretora clínica da Rede Mater Dei de Saúde, Márcia Salvador, o alinhamento dos protocolos teve um resultado efetivo em casos de pneumonia, por exemplo, com diminuição do gasto com antibióticos e redução do tempo de permanência do doente dentro do hospital.
Justamente para que a governança clínica não se restrinja à criação de diretrizes e protocolos sem aplicação, as organizações precisam incorporar a prática ao dia a dia das equipes de saúde, monitorar o cumprimento dos acordos e avaliar os resultados, com base em evidências. Uma análise crítica contínua dos resultados ajuda a criar ou rever ações e rotas. No Mater Dei, as metas são revistas a cada três meses pela alta direção, envolvendo diretoria clínica, coordenadores e outros profissionais.
O caso britânico
Entre os modelos mais conhecidos de Governança Clínica está o proposto pelo National Health Service (NHS), no Reino Unido. Segundo a definição do NHS, trata-se de um “sistema por meio do qual as organizações são responsáveis por melhorar continuamente a qualidade dos seus serviços e garantir elevados padrões de atendimento, criando um ambiente de excelência de cuidados clínicos”. Tem como pilares uma auditoria clínica eficaz e participativa; gestão eficiente do risco de eventos adversos, educação e treinamento de profissionais; desenvolvimento e pesquisa clínica e transparência em todos os processos e relações interpessoais.
A estratégia pode ser adotada por qualquer tipo de instituição, desde que suas lideranças estejam comprometidas com diretrizes claras e tenham a habilidade para motivar internamente suas equipes. A ideia é trazer o médico e demais profissionais para integrar o processo de gestão e agregar experiência prática. Os limites de atuação diferem em cada organização, variando desde aportes com propostas, pesquisas, sistemas de reporte, monitoramento e notificações, até mesmo com estratégias para gerenciar insumos, coordenar leitos e internações.