Uma pesquisa publicada no JAMA Internal Medicine trouxe uma nova perspectiva sobre detecção do câncer de mama e as consequências no diagnóstico final. Foram comparados os resultados registrados com a ressonância nuclear magnética e com a mamografia. O estudo trouxe um alerta sobre a utilização desnecessária de exames, levando a resultados “falso-positivos” e a procedimentos mais invasivos, como é o caso de biópsias cirúrgicas.
O levantamento foi desenvolvido por Diana Buist, do Instituto de Pesquisa de Saúde da Kaiser Permanente Washington e membro do Breast Cancer Surveillance Consortium (BCSC), e analisou os dados de 800 mil mulheres que se submeteram a mais de 2 milhões de mamografias ou ressonâncias magnéticas de mama. Para fazer o comparativo, a pesquisadora e sua equipe analisaram as taxas de biópsias e câncer confirmado no intervalo de 90 dias – ou seja, verificaram quais exames exigiram mais biópsias e quantos deles resultaram em confirmações da doença.
O resultado foi que as taxas de biópsias em mulheres – com algum histórico familiar de câncer de mama – que fizeram o rastreamento por ressonância magnética foi duas vezes mais alta do que naquelas que fizeram mamografia. O resultado foi ainda cinco vezes maior nas mulheres que nunca tiveram qualquer histórico da doença.
Outro resultado interessante: o maior número de biópsias não resultou em mais casos de câncer diagnosticados. Ou seja, o risco para o câncer de mama identificado na ressonância magnética não justificou as solicitações de biópsias, principalmente as biópsias cirúrgicas, consideradas procedimentos mais invasivos ao corpo da paciente.

A pesquisa traz à tona a discussão acerca do sobrediagnóstico ou excesso de exames desnecessários. Esse assunto vem sendo debatido em todo mundo com campanhas como o Choosing Wisely.
Para o médico oncologista Stephen Stefani, professor de auditoria em oncologia da Faculdade Unimed, todo médico deve se questionar como o exame ajudará na vida do paciente. “Esse estudo parte do pressuposto de que um exame mais sofisticado, como a ressonância nuclear magnética, poderia contribuir na investigação ou triagem de pacientes com câncer de mama, além da mamografia. E o que aconteceu? Como a ressonância é um exame muito mais sensível, identificaram muito mais alterações e muito mais mulheres tiveram que ser submetidas a procedimentos de biopsias. No entanto, de modo diferente daquilo que as pessoas imaginavam, não se identificou mais casos de câncer”, diz o professor.
De acordo com o médico, o fato de muito mais mulheres passarem por um biópsia sem necessidade já é um fator de risco desnecessário. “Se conseguirmos reconhecer quais são os casos que realmente precisam dessa atenção, nós endereçaremos o exame que melhor se adequa. É necessário que o paciente possa conversar com o médico para entender o significado de cada exame e o que será feito com aquela informação”, detalha o professor.
Para ele, a conversa com o paciente é essencial para que ambos decidam os rumos do tratamento, assim como os riscos de cada possível exame. “Estamos em uma era de empoderamento das pessoas. O paciente passou a ter uma relação horizontal com o médico, ou seja, eles conversam sobre o quadro clínico e o médico vai assessorar o paciente na tomada de decisão. E a única maneira de tomar uma decisão é com a informação adequada. Todo e qualquer exame tem riscos e benefícios. Dessa forma, médico e paciente poderão equacionar esses dois fatores e avaliar o resultado normal e anormal”, finaliza o médico.
Para ler o artigo completo, acesse jamanetwork.com/journals/jamainternalmedicine/article-abstract/2672204
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