A gravidez na adolescência ainda é um desafio enfrentado no mundo inteiro. No Brasil, dados preliminares do Ministério da Saúde mostram que 18% dos nascidos vivos em 2015 são gerados por mães de 10 a 19 anos – ou seja, uma em cada cinco das 3 milhões de crianças nascidas no Brasil neste período são fruto de gravidez precoce. Dessas, 66% eram indesejadas.
“Apesar de todas as mudanças na sociedade em prol das mulheres graças ao feminismo, o problema maior continua sendo da menina. Ela que carrega o bebê por nove meses, tem todo transtorno psicológico da gravidez, sofrendo com maior índice de psicose puerperal, como depressão. Muitas vezes, durante a gravidez, são abandonadas pelo parceiro e pelos familiares, que a expulsam de casa”, afirma Lívia Venturieri, ginecologista obstetra e mastologista da Clínica Daia Venturieri.
O mesmo levantamento indica que houve uma redução de 17% nas gestações entre adolescentes – queda que a pasta credita a políticas públicas, como a expansão do programa Saúde da Família. Em comunicado à imprensa, a diretora do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas (DAPES), Thereza de Lamare, afirmou que o programa aproxima os adolescentes dos profissionais de saúde. Segundo a especialista, a queda também se deve a mais acesso a métodos contraceptivos e ao programa Saúde na Escola que oferece informação de educação em saúde.
Existem diversas linhas de frente para combater a gravidez na adolescência, sendo as duas principais o trabalho de conscientização e planejamento reprodutivo. Falamos sobre elas a seguir.
Contracepção eficiente
A questão do método contraceptivo para adolescentes é particularmente sensível. “As jovens não são tão responsáveis. Por isso, se for indicado o anticoncepcional oral com ingestão diária, por exemplo, elas podem se esquecer”, diz Venturieri.
Desta forma, ginecologistas devem dar preferência a métodos que funcionem independentemente da ação da jovem. “O DIU é um método que dura 10 anos. Além de ser de longa duração,não precisa da adolescente ficar lembrando de tomar remédio, o que é um fator importante para evitar a gravidez”, apontou Lamere, via comunicado do Ministério da Saúde.
Venturieri conta que métodos injetáveis mensais e trimestrais também são eficientes pelos mesmos motivos. “Porém, tanto os métodos injetáveis quanto o DIU previnem a gravidez, mas não as DSTs”, alerta Venturieri. Para isso, é importante enfatizar o uso da camisinha tanto para meninas quanto para meninos.
Saber para prevenir
Porém, de nada adianta oferecer métodos contraceptivos eficientes, se os jovens não souberem como utilizá-los – oferecer educação sexual é fundamental para a prevenção de gestações entre adolescentes. Para tanto, é preciso entender quais fatores estão envolvidos. “Normalmente, as adolescentes mais suscetíveis a uma gravidez precoce são aquelas de família de baixa renda e que não estão na escola, aquelas que sofrem da ausência dos pais, da educação familiar e já são filhas de mães jovens”, afirma Venturieri.
Hoje, o Ministério da Saúde distribui a Caderneta de Saúde de Adolescentes (CSA) nas versões masculina e feminina, que oferece orientação a respeito do tema. Há, ainda o amplo acesso a informações de toda espécie na internet – que não necessariamente são de boa qualidade, uma vez que ela é território livre para publicações sem fontes confiáveis. Sendo assim, elas podem não ser suficientes, pois existem uma série de conceitos errôneos que continuam fixos na cabeça dos jovens.
No estudo “Gravidez na adolescência: conhecimentos e prevenção entre jovens”, as pesquisadoras Edna Araújo Guimarães e Geraldina Porto Witter, da Universidade Camilo Castelo Branco, apontam que, na maioria das vezes, as gestantes revelaram uma espécie de “pensamento mágico de que a gravidez não acontece com ela[s], que transar sem camisinha é prova de amor, de confiança no parceiro, o uso de pílulas implicaria no conhecimento dos pais sobre sua vida sexual ativa.”
Infelizmente, o debate sobre o tema entre pais e filhos ainda é precário. “Com certeza o preconceito e os tabus atrapalham. Os pais têm que conversar sempre, não podem deixar o assunto apenas para o poder público e a escola”, alerta Venturieri. Ela ensina que é possível iniciar o assunto abordando um caso conhecido, ou usando livros indicados para essa faixa etária, que apresentam o assunto de forma didática.
É preciso também incluir os meninos na conversa, visto que eles são igualmente responsáveis pela concepção. “Eles precisam entender quais são as responsabilidades de ser pai. Precisam saber que, por exemplo, podem ter que sair da escola ou faculdade para trabalhar, pois precisarão sustentar a criança”, acrescenta Venturieri.
Acompanhando de perto
Porém, é válido enfatizar que o simples acesso a informação não garante a prevenção da gravidez precoce, tampouco apenas a oferta de métodos contraceptivos. No mesmo estudo, Guimarães e Witter observaram que as participantes apresentavam conhecimentos em contracepção, assim como já haviam tido acompanhamento no ginecologista, mas isso não impediu que engravidassem.
“São evidências de que não basta informar os adolescentes sobre sexualidade e contracepção, há necessidade de programas incisivos para possibilitar-lhes mudança do seu comportamento, cuja eficiência seja adequadamente avaliada. Para tanto, recomenda-se o enriquecimento da equipe de profissionais nos Postos de Saúde e também nas escolas, incluindo psicólogos especializados nesse campo para promover a prática desses conhecimentos adquiridos”, apontam as pesquisadoras.



















