O crescimento das cooperativas no Brasil e o consequente aumento da competitividade deste mercado têm levado as associações a incorporarem cada vez mais o conceito de governança corporativa. O objetivo é assegurar uma direção estratégica, focada na sustentabilidade e transparência da gestão, que garanta os interesses dos cooperados.
A afirmação é da especialista Alessandra Hocayen, mestranda em administração da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e autora do estudo “Governança corporativa: as práticas de governança consideram os princípios cooperativistas? Uma análise acerca de manuais de boas práticas”. Na pesquisa, apresentada recentemente no Encontro Brasileiro de Pesquisadores em Cooperativismo (EBPC), ela compara os dois documentos para cooperativas existentes no Brasil, elaborados pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OBC).
Hocayen explica que, além da comparação, o objetivo do estudo foi checar se os documentos, que regem a questão, consideram os princípios das cooperativas no momento em que sugerem as boas práticas de governança. E, segundo ela, os valores são sim levados em conta. Até porque “boa parte das práticas sugeridas nos dois documentos já são seguidas pelas cooperativas, pois, na verdade, são obrigações legais, previstas na Lei das Cooperativas, no. 5.764/71”, afirmou.
A pesquisadora chama a atenção para o fato de que os dois documentos recomendam a criação de muitos comitês. “Fica a dúvida de até que ponto isso engessaria a tomada de decisão das cooperativas”, pontua. “Não seria importante ir a campo e testá-las?”, questiona. Ela e os coautores do estudo, Silvia Caleman e Antônio Hocayen, sugerem que os manuais sejam revisados conjuntamente e unificados.
Crescimento
A expansão no número de cooperativas e de segmentos que incorporam o modelo no Brasil tem, de fato, intensificado as discussões acerca da governança. Hoje, de acordo com a OBC, são 13 os ramos do cooperativismo no Brasil, tais como, educacional, crédito, infraestrutura, trabalho, entre outros. Os princípios do modelo englobam sete pontos, como gestão democrática, educação, formação e informação e interesse pela comunidade.
Em relação ao setor de saúde, o Brasil é referência mundial devido ao seu pioneirismo e, hoje, é a nação com o maior número de cooperativas na área. São 813 no total que, juntas, reúnem 225 mil associados e 96 mil empregados, conforme a OBC. Hocayen chama atenção para o selo “Unimed de Governança e Sustentabilidade”, desenvolvido pela Unimed do Brasil, com o objetivo de incentivar as unidades a implementarem as boas práticas de governança, visando o crescimento sustentável das regionais.
A pesquisadora frisa que o maior desafio nesse esforço, envolvendo a governança nas cooperativas, é construir práticas reconhecidas e legitimadas. “Principalmente pelas bases, por pessoas que farão o uso delas no dia a dia e que conseguirão enxergar a diferença na gestão das cooperativas com e sem governança corporativa”, finaliza.
Princípios das cooperativas (segundo a OBC)
– Adesão voluntária e livre;
– Gestão democrática;
– Participação econômica dos membros;
– Autonomia e independência;
– Educação, formação e informação;
– Intercooperação;
– Interesse pela comunidade.


















