A crise econômica tem sido um dos grandes impulsores da economia colaborativa. Nesse contexto, cada vez mais cooperativas e empresas que trabalham em modelo colaborativo vêm ganhando espaço no mercado devido à viabilidade do negócio. A onda chegou ao setor de saúde, no qual médicos e outros profissionais da área perceberam como a união também faz a força.
Quando um empreendedor abre um negócio individualmente, cabem a ele todos os investimentos e as responsabilidades, assim como o risco de insucesso. O mesmo não ocorre no modelo cooperativo, em que um grupo de médicos e outros profissionais da saúde investem juntos e compartilham responsabilidades.
Quando se empreende de forma compartilhada, o risco de perda também é dividido e há mais dedicação dos parceiros. “Eles não estão ali como funcionários mas, sim, porque concordam com aquele modelo de negócio e atuam como donos. Com isso, a tendência é que se dediquem mais e sejam mais cuidadosos”, afirma David Frederik da Silva Cavalcante, coordenador do Curso Técnico em Cooperativismo do Instituto Federal de Brasília (IFB).
Como funciona
A ideia é reunir uma boa quantidade de profissionais para atuarem colaborativamente, de maneira que todos dividam desde responsabilidades e obrigações até os resultados do trabalho em grupo – e aqui entram tanto os lucros quanto possíveis ônus.
“Se você consegue criar uma comunidade neste porte, onde cada um tira sua parcela de faturamento, conseguirá executar sua estratégia de negócio e, ao mesmo tempo, até poderá cobrar dos pacientes um preço acessível”, diz Joeval Martins, professor da IBE-FGV especialista em Canais de Vendas, Parcerias, Alianças e Competitividade.
Se o objetivo for, de fato, formar uma cooperativa, a legislação determina que o mínimo de pessoas necessário é 20. No entanto, se não houver interesse ou você ainda não contar com este número, é possível abrir uma clínica com menos pessoas inspirada no modelo cooperativo, mas sem adotar a nomenclatura. Enquanto isso, você pode ir recrutando novos cooperados até que se atinja os 20.
É fundamental que todos estejam dispostos a também atuarem como gestores, não apenas como profissionais de saúde, e se voltarem para o negócio – a falta de envolvimento pode ser extremamente prejudicial para o sucesso da clínica. Quem não se envolve, acaba deixando as decisões para os cooperados que estão mais comprometidos com a administração. Depois, surgem as reclamações e, consequentemente, os conflitos. “O compartilhamento do poder decisório requer aproximação e um alinhamento muito forte”, completa Cavalcante.
No entanto, essa aptidão aos negócios pode ser desenvolvida. Por isso, o mais importante, a princípio, é procurar pessoas que tenham disposição de trabalhar de forma coletiva, em pé de igualdade com todos, e capacidade de dialogar. “É preciso deixar o ego de lado e fazer o necessário pelo bem da comunidade de profissionais que trabalham com você”, reitera Martins.
Lucro para todos
Outra vantagem é a possibilidade de maximizar os ganhos da clínica. Imagine que um médico que trabalha sozinho consiga atender apenas oito horas por dia. Isso significa que ele está limitado à sua própria capacidade de trabalho e ganhará apenas pelas oito horas. “Com a cooperação, vários profissionais estarão trabalhando juntos e acelerando a passagem do paciente dentro da clínica, abrindo espaço para que outros entrem. Com isso, o profissional consegue capitalizar mais do que apenas sua consulta e extrair um ticket médio de venda muito mais amplo”, defende Martins.
Neste modelo, parte do faturamento de cada profissional vai para um fundo destinado à manutenção da clínica, incluindo funcionários como recepcionistas e faxineiros. O que sobrar é dividido para todos os cooperados. “Isso torna a divisão mais justa. Suponhamos que a clínica conta não apenas com especialidades médicas, mas também com outros profissionais da saúde, como fisioterapeutas e nutricionistas. Nem todos os pacientes precisarão se consultar com estes profissionais. Essa divisão permite que eles também possam lucrar”, explica Martins.
Antes de optar pelo modelo de cooperativa – ou inspirado nele –, o mais importante é saber se você e seus sócios conseguirão incutir no cerne do negócio os princípios cooperativos e trazê-los para o dia a dia. “Todos têm o mesmo poder de voto e não cabe discriminação por gênero, renda, etnia, religião ou ideologia”, explica Vergilio Frederico Perius, presidente do Sistema Ocergs-Sescoop/RS.


















