Manter o equilíbrio na gestão de recursos, levando em conta as necessidades dos clientes. Esses são os pilares da chamada saúde baseava em valor, um conceito que ganha espaço nas discussões sobre novos modelos de remuneração da saúde, no Brasil e no exterior.
Para Cesar Abicalaffe, mestre em Economia da Saúde pela Universidade de York na Inglaterra e presidente da 2iM, o mais importante dentro do conceito de qualidade é que os resultados sejam interessantes para quem recebe a assistência. “A grande mudança de paradigma é demonstrar que você consegue produzir uma qualidade que realmente importa ao paciente e que tenha um custo acessível. Hoje, não medimos dessa forma”, alerta.
“Se alguém faz uma cirurgia por exemplo, o máximo de indicadores que uma operadora observa é a permanência no hospital, quanto tempo que o paciente ficou internado no pós-cirúrgico e se houve ou não alguma infecção. Quando você pensa no que importa para o paciente, é preciso oferecer outras informações, como quando ele vai poder retornar ao trabalho, realizar uma atividade física, etc. A perspectiva do paciente é muito mais abrangente”, explica Abicalaffe.
Ainda que parece algo abstrato, existem formas concretas e bem conhecidas para medir o valor oferecido. Uma delas é a aplicação de questionários para mensurar o nível de satisfação dos clientes, compreender o que esperam dos cuidados a serem recebidos pela instituição e como qualificam o atendimento em cada uma das etapas de sua linha de cuidado. Para um bom resultado, a experiência do paciente é um fator crucial.
Para alcançar esse nível de maturidade em gestão, é preciso uma mudança em todos os níveis, sobretudo o cultural. No Brasil, muitos hospitais ainda têm como foco o tratamento da doença em lugar da promoção da saúde. O modelo fee for service é predominante, o que pode elevar desnecessariamente a demanda por insumos, tratamentos e procedimentos. Uma alternativa é a remuneração baseada em valor, que exige a adoção de métricas padronizadas para medir o desempenho do cuidado.
Entre as estratégias também está o mapeamento de todas as áreas de um hospital, de como a compreender o papel de cada membro da equipe e a aplicação de padrões pré-definidos que possam orientar as ações voltadas aos tipos de enfermidades, compreendendo o todo e aplicando à realidade de cada pessoa.
Para Abicalaffe, a medicina bem-feita tem um custo adequado para o sistema. “Não estou falando em diminuição de custo, mas em evitar o desperdício. Quando se faz uma série de exames sem necessidade, isso gera um custo muito grande. Então, quando você organiza o sistema, consegue um custo ideal e traz benefício para todos”, conclui Abicalaffe.