De acordo com o estudo “Envelhecimento populacional e os desafios para o sistema de saúde do brasileiro”, realizado pelo IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar) e atualizado em 2016, a população com 60 anos ou mais triplicou entre 1950 e 2010 – a faixa de idosos é a que tem apresentado o maior crescimento desde 2013. Esta proporção irá avançar ainda mais. Segundo o Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2009 a 2030, a população brasileira passará de 193,5 milhões para 223,1 milhões, um crescimento de 15,3%.
Este cenário impactará diretamente nos custos com saúde. O IESS indica crescimento de 83,6% nos gastos da Saúde Suplementar entre 2010 e 2030, devido ao envelhecimento populacional. A estimativa é que daqui a 20 anos sejam desembolsados R$ 396,4 bilhões, considerando a variação dos custos médico-hospitalares e do envelhecimento.
Outra consequência deste novo panorama é a falta de mão de obra. A população produtiva deverá cair drasticamente, o que levará a uma escassez de profissionais para atender os brasileiros da terceira idade. De acordo com a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), enquanto em 2000 existiam cinco cuidadores potenciais para cada idoso com mais de 75 anos, em 2050 a proporção será de apenas dois.
Diferentemente de outros países, como a França, que teve 150 anos para se adaptar a mudança de idade da população, temos pouco tempo para nos preparar. Por enquanto, há poucas iniciativas para enfrentar essa mudança. “O envelhecimento da população não é planejado, o que preocupa o nosso futuro”, comenta Alessandra Petraroli, gestora da Casa de Cuidados Cantareira, instituição de longa permanência, localizada na capital paulista, e especialista em administração hospitalar e sistemas de saúde.
Ações do bem
A perda da independência do idoso ocorre de forma gradativa, porém, é possível retardar ou evitar que incidentes graves transformem a velhice uma etapa difícil e dolorosa da vida. O trabalho de prevenção de doenças, com o acompanhamento de diferentes especialistas, principalmente na terceira idade; a assistência terapêutica; o estímulo ao envelhecimento ativo e a adaptação de ambientes, com o objetivo de preservar a funcionalidade dos indivíduos, são estratégias fundamentais de apoio ao processo de envelhecimento e grandes aliados de um futuro tranquilo.
É preciso estimular a realização de atividades corriqueiras como tomar banho, escovar os dentes, lavar louça, comer e até mesmo caminhar sem ter de pedir ajuda – iniciativa fundamental em uma era de mudanças no perfil de convivência das famílias e do aumento da expectativa de vida. “O idoso não quer ser um fardo para a família, ele quer ser capaz de fazer tudo sozinho. E é preciso ensiná-los e conscientizá-los de que preservar essas funcionalidades é fundamental para um cotidiano ativo”, comenta a especialista.
É claro que, ao logo do processo de envelhecimento, muitos imprevistos podem surgir. O idoso que enfrenta algum problema grave de saúde como, por exemplo, um AVC (Acidente Vascular Cerebral) não consegue mais, em muitos casos, se adaptar ao ambiente de casa – o local não supre mais suas novas necessidades. Sem um ambiente residencial adequado, muitos deles vão parar em instituições que também não estão suficientemente preparadas para recebê-los.
“Para se ter uma ideia, 40% dos idosos que fazem alguma cirurgia não voltam a andar. A velhice é uma trajetória e é preciso administrar a perda gradual de funcionalidades e ir preparando e modificando os espaços de acordo com as necessidades ”, explica Alessandra.
A preparação para enfrentar este novo quadro populacional envolve diversas iniciativas. Entre elas o oferecimento de uma gama mais completa de profissionais; infraestrutura mais adequada, com banheiros e quartos que possam preservar a funcionalidade dos idosos; comunicação mais adequada, com diferenciação de cores entre corredores e portas para ajudar na identificação e localização dos espaços, além da realização de atividades que estimulam a manter uma vida em plena atividade.
Para Alessandra, o ideal para a obtenção de resultados efetivos é que o ambiente seja arquitetado especificamente para receber idosos. “A adaptação em geral é artificial, não é natural, por isso é necessário começar do zero”, comenta.