Quando a intercorrência de uma cirurgia estética de uma celebridade ganha as manchetes, pacientes imediatamente questionam seus médicos a respeito da segurança dos procedimentos.
As dúvida e incertezas passaram a incluir referências à COVID-19. “A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, em parceria com as agências de saúde, vem orientando seus membros sobre como lidar neste novo cenário”, afirma Antonio Melo, cirurgião plástico do Hospital Vila NovaStar. “A retomada das atividades se deu de forma lenta, em áreas fora da zona crítica da taxa de infecção e da sobrecarga das unidades hospitalares”, completa.
Após a liberação da realização de cirurgias eletivas pela Anvisa, a demanda, em parte represada, tem aumentado. No caso de procedimentos estéticos, os consultórios voltaram a registrar grande movimento para remarcar o que tinha sido adiado no início da pandemia.
Em princípio, a orientação dos órgãos de saúde foi priorizar pacientes jovens, sem comorbidades, e privilegiar cirurgias mais rápidas e menos invasivas. O protocolo de segurança inclui testes nos profissionais e pacientes, além de fluxos separados.
“Atualmente temos mais conhecimento da dinâmica da COVID-19 e isso também torna tudo muito mais seguro”, diz Márcio Matsumoto, diretor de Práticas Médicas do Serviço Médico de Anestesia (SMA) e responsável pela residência em Anestesiologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “As cirurgias eletivas estão sendo retomadas de forma considerável, pois os profissionais da saúde estão mais confiantes sobre a melhor forma de se protegerem e como protegerem os pacientes”, acrescenta o anestesista.
Pilares de segurança
Os especialistas destacam alguns critérios que promovem segurança em qualquer cirurgia.
Tudo começa pela avaliação do paciente, claro. “Em tese, qualquer pessoa pode ser submetida a uma cirurgia estética, mas a estratégia de segurança começa com a correta indicação e, principalmente, a contraindicação ao procedimento”, enfatiza o cirurgião.
Analisar a condição de saúde do paciente inclui obter informações sobre remédios de que faz uso costumeiramente a fim de evitar interação com anestésicos e medicamentos usados na cirurgia. “Também representa risco desconhecer alergias do paciente e eventual uso de drogas ilícitas”, acrescenta Matsumoto. “Baseado no perfil do paciente, suas comorbidades e no tipo de cirurgia que será realizada, é fundamental fazer um planejamento prévio da técnica anestésica, além da avaliação pré-anestésica, na qual o anestesista conhece o paciente ”, detalha o especialista.
Outra medida fundamental é a escolha do local. Sejam clínicas ou hospitais, estes precisam ter toda a infraestrutura e retaguarda para cirurgias. A maioria dos episódios fatais que ganham grande repercussão são realizados em lugares inadequados.
Por fim, os médicos sublinham a importância da competência técnica dos profissionais e da interação entre cirurgião e anestesista. “Ambos precisam falar a mesma língua, ou seja, conhecer bem o trabalho um do outro, para oferecer a melhor técnica, com máxima segurança e menores custos”, afirma Matsumoto.
Para Melo, as complicações e intercorrências são raras quando respeitados os protocolos. No entanto, as mais comuns são hematomas (1,5%), infecções, necrose, embolia, tromboses, sepse e irregularidades, perfurações, entre outras. “As temidas trombose e embolia, em estudo com 20 mil casos, mostrou incidência de 0,04% e 0,02%, respectivamente”, esclarece o cirurgião. “Assim, os cuidados devem ocorrer nos três tempos – pré, trans e pós-operatório – para diminuição das complicações graves”, finaliza o médico.