Que exercícios físicos fazem bem à saúde, todos sabem, mas o que dizer da informação de que apenas 30 minutos diários de caminhada poderiam ter salvado mais de 2 mil brasileiras vitimadas pelo câncer de mama no Brasil?
É a essa marca, de aproximadamente 2.075 mulheres, que chega um estudo internacional envolvendo três universidades brasileiras, bem como pesquisadores canadenses e norte-americanos, que se debruçaram sobre os casos da doença registrados nos anos de 1990 e 2015. Segundo o levantamento, publicado no final de 2018 pela revista Nature, 12% das mortes do final dessa série histórica seriam evitadas se o sedentarismo não estivesse na equação.
Para entender a relação, é preciso recorrer à biologia. Entre as causas conhecidas de câncer de mama, está o excesso de estrogênio, que aumenta os riscos de produção de radicais a partir de mutações e carcinogêneses no organismo. Na outra ponta dessa conta estão as atividades físicas, que induzem a redução de circulantes inflamatórios e estimulam a produção de substâncias anti-inflamatórias por meio do controle dos níveis de estradiol, globulina e hormônios sexuais no corpo.
No entanto, pouco mais da metade (51,3%) das mulheres que residem em capitais brasileiras não pratica o mínimo recomendado de exercícios (150 minutos semanais de intensidade moderada ou 75 de intensidade vigorosa), segundo a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), de 2017. Além disso, 13,9% delas se reconhecem como sedentárias, mesmo as mais jovens.

O estudo internacional envolvendo pacientes brasileiras de câncer de mama foi conduzido ao longo de diversos meses e teve financiamento da Fundação Bill e Melinda Gates, bem como do Ministério da Saúde brasileiro. Ele revela, por exemplo, que, ironicamente, as maiores taxas de óbito são verificadas em locais de desenvolvimento socioeconômico mais acentuados – onde, no entanto, as atividades físicas são mais comumente deixadas de lado na lista de prioridades. No Brasil, a liderança nas taxas de óbito pela doença é ocupada pelo Rio de Janeiro. Completam o ranking Rio Grande do Sul e São Paulo, enquanto no fim da lista estão Tocantins, Rondônia e Amapá.
Além da capacidade de salvar 12% das pacientes que já tinham desenvolvido a doença, a pesquisa, com base em 35 outros artigos sobre o assunto, concluiu que o ato de exercitar-se reduz em 14% o próprio risco de ser acometido por ela. O preocupante cenário é completo quando se considera que o Brasil tenha registrado uma tendência de aumento em 0,77% dos casos de morte pela enfermidade graças ao sedentarismo, na contramão do restante do mundo, cuja queda chegou a 2,84%. O número fica ainda mais impactante quando é verificado que se atribui à inatividade física quase o dobro das mortes ligadas a outros fatores de risco combinados, incluindo abuso de álcool, obesidade e dietas fartas em açúcares.
O estudo faz a ressalva de que os casos das sobreviventes ao câncer de mama não foram levadas em consideração na pesquisa e que a atividade física é indicada em qualquer estágio após o diagnóstico, trazendo benefícios físicos e psicológicos.


















