Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada em 2013, 55,6% dos brasileiros não se consultam com um dentista anualmente. Este dado é alarmante porque muitos males de outras partes do corpo podem apresentar manifestações na cavidade oral. Da mesma forma, a boca pode ser porta de entrada para diversas doenças.
“Diante da baixa parcela da população com acesso a dentistas, o médico tem papel fundamental nas primeiras orientações sobre a saúde bucal”, afirma a dentista Flávia Gorino.
Situações comuns na rotina de atendimentos de um dentista podem gerar um sinal de alerta. Por exemplo, uma simples gengiva inflamada ou um dente com o canal aberto sem tratamento aumentam consideravelmente o risco de uma endocardite bacteriana por causa de bacteremia. “Os pacientes com cardiopatias ou diabetes não controlada têm maior risco de bacteremia”, completa a dentista Maíra Sabato Knirsch, Odontoup Pinheiros.
“Gengivite em gestantes exacerba a possibilidade de parto prematuro. Nessa fase, a gengiva apresenta uma hipervascularização, tornando mais fácil a disseminação das bactérias – que, por sua vez, podem se aderir à parede do útero”, relata a dentista Daniela Yano.
De acordo com Daniela, também é comum que queixas de hipersensibilidade dentária estejam associadas a problemas gastrointestinais. “O refluxo torna a cavidade bucal mais ácida e, consequentemente, aumenta a porosidade do esmalte dentário, causando o incômodo”, observa.
As diversas relações entre a saúde da boca e do restante do corpo mostram como é importante o diálogo de médicos com seus pacientes a respeito dessa questão. No entanto, como incentivar essa conversa?
Como o médico pode levar a discussão sobre saúde oral aos pacientes?
O primeiro passo é entender e se atentar às ligações da saúde bucal com a sistêmica. A partir disso, será mais fácil conscientizar seus pacientes sobre a importância de avaliações e o acompanhamento.
“O médico pode ajudar na prevenção de doenças bucais, orientando e encaminhando seus pacientes a profissionais de odontologia. Da mesma forma, o profissional de odontologia pode auxiliar no diagnóstico precoce de diversas doenças sistêmicas que apresentam manifestações iniciais na cavidade bucal. Por isso, é imprescindível uma avaliação multidisciplinar do paciente”, defende Flávia.
Sempre que possível, levante essa discussão com seus pacientes. Se você for um médico gastroenterologista, converse sobre a sensibilidade dentária que pode ser causada pelo refluxo esofágico. Se você for ginecologista, encaminhe as gestantes ao dentista. “O corpo funciona como uma engrenagem de relógio: caso um anel esteja fora de lugar, todo o sistema sofre”, finaliza Flávia.