Praticar atividades físicas regularmente pode trazer uma série de benefícios, como melhorar o humor, prevenir doenças cardiovasculares e diminuir ansiedade, estresse e depressão. Agora, um estudo realizado por cientistas da Universidade de Gothenburg, na Suécia e publicado no Jornal Científico Neurology também aponta um ganho ainda maior.
A pesquisa indica que mulheres de 38 a 60 anos com elevado condicionamento físico têm um risco 88% menor de desenvolver demência em relação àquelas que estão moderadamente em forma. Ou seja, o nível de estamina – o tempo que seu corpo leva para atingir o pico de exaustão durante um exercício – pode estar ligado a um menor risco de desenvolvimento de demência.
A pesquisa começou a ser desenvolvida em 1968, quando um grupo voluntário de 1.462 mulheres suecas na faixa etária de 38 a 60 anos de idade foi submetido a testes de exercícios em bicicletas ergométricas para a avaliação do condicionamento cardiovascular. Durante a análise, a capacidade física das mulheres foi medida a partir da quantidade de peso ou resistência que poderia ser adicionada à bicicleta antes que elas se sentissem fatigadas. De todo grupo, uma sub amostra de 191 mulheres conseguiu completar o teste de ciclismo e, com base no pico de carga de trabalho bruto de cada participante, elas foram separadas em três grupos: 59 estavam no denominado “baixo condicionamento”, 92 no “médio condicionamento” e 40 no “alto condicionamento”.

Esse grupo menor de mulheres foi acompanhado até o ano de 2012 e, durante esse tempo, os pesquisadores realizaram exames de incidência de demência em 1974, 1980, 1992, 2000, 2005 e 2009. A condição reúne um grupo de sintomas causados por distúrbios que afetam o cérebro, podendo levar à perda de memória ou a problemas relacionados à função cerebral. A doença de Alzheimer é o exemplo mais comum de demência, sendo uma condição irreversível e progressiva. O diagnóstico foi realizado de acordo com base em informações de exames neuropsiquiátricos, entrevistas com informantes, prontuários hospitalares e dados de registros.
Depois de 44 anos de análise, o grupo de cientistas descobriu que os resultados dos testes de condicionamento físico ajudaram a prever se as mulheres seriam diagnosticadas com demência em uma idade mais avançada. Segundo os resultados, a maior incidência de demência foi identificada no grupo de participantes que iniciaram o teste de esforço e não conseguiram finalizá-lo, chegando à marca de 45% do total de 1.462 mulheres. Já no grupo de 191 voluntárias, 32% das integrantes do grupo de “baixo condicionamento”, 25% das do grupo de “médio condicionamento” e apenas 5% das do grupo de “alto condicionamento” desenvolveram demência ao longo do período de estudo, ou seja, 44 delas foram diagnosticadas com a condição.
Nas mulheres do grupo de “alto condicionamento” que desenvolveram demência, no entanto, os problemas tenderam a aparecer em média 11 anos mais tarde do que entre as do grupo de “médio condicionamento”. Em outras palavras, uma mulher considerada extremamente em forma na meia-idade pode ter começado a apresentar sinais da condição aos 90 anos, ao passo que uma considerada moderadamente em forma pode ter manifestado sinais de demência já aos 79 anos.
Apesar de os resultados encontrados mostrarem uma associação entre a capacidade cardiovascular e o risco de demência, o estudo não estabeleceu uma relação de causa e efeito entre ambos e, por isso, não estão claros os motivos pelos quais uma mulher de meia-idade com alto condicionamento pode ter sua probabilidade de desenvolver demência reduzida.
Segundo os próprios cientistas, as principais limitações da pesquisa são sua pequena e específica amostra de participantes, com avaliação de aptidão cardiovascular realizada apenas em um momento. Por isso, eles reiteram que mais estudos são necessários para determinar se o melhor condicionamento físico pode ter efeitos positivos sobre o risco de desenvolvimento de demência e quando, durante a vida, um alto nível de condicionamento físico é mais importante.
Ainda assim, dentre as principais suspeitas dos pesquisadores em relação à ligação entre o desenvolvimento de demência e o condicionamento físico estão alguns processos cardiovasculares subjacentes, como a hipertensão na meia-idade, podendo tornar essas mulheres mais vulneráveis à condição quando mais velhas.