Um estudo realizado no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) apresentou resultados promissores para o futuro do tratamento do câncer de próstata. Os pesquisadores conseguiram manipular geneticamente um vírus que, quando injetado em camundongos com a doença, consegue destruir células tumorais. A pesquisa identificou também que a combinação do mesmo vírus geneticamente modificado com um quimioterápico deixa as células tumorais mais sensíveis ao tratamento da quimioterapia. Os resultados foram publicados na revista Gene Therapy, do grupo Nature.
Coordenado pela equipe do diretor do Laboratório de Vetores Virais no Centro de Investigação Translacional em Oncologia (CTO) do Icesp, Bryan Eric Strauss, o estudo partiu da proposta de que a terapia gênica com o gene p53 e a quimioterapia, quando combinadas, podiam gerar a morte celular do tumor no tratamento de câncer de próstata. Para tanto, o primeiro passo foi implantar células cancerígenas de próstata humana nos bichos e deixar o tumor crescer. Depois, o gene p53, responsável por fazer o controle da morte celular e que existe em humanos e camundongos, foi inserido no código genético de um adenovírus. Esse vírus, já modificado, foi injetado no tumor dos roedores.
Foram escolhidas três drogas quimioterápicas para o teste. “Testamos três que são mais utilizadas no tratamento e vimos que uma delas, cabazitaxel, poderia ser mais eficaz quando combinada com terapia gênica com p53”, explicou Bryan Eric Strauss. A investigação dividiu os animais em quatro grupos. O primeiro deles, de controle, recebeu outro tipo de vírus indiferente ao contexto. O segundo recebeu apenas o vírus codificado com o p53. O terceiro recebeu a droga cabazitaxel, enquanto o quarto recebeu a combinação da droga com o vírus inoculado com p53.

“Identificamos no animal que a combinação da terapia gênica e essa droga fez com que o tumor simplesmente não crescesse durante 90 dias, que foi o nosso período de observação”, detalhou o pesquisador. De acordo com ele, no grupo que usou somente a droga ou a terapia gênica não houve eliminação do tumor, no máximo um crescimento mais lento dele. Essa combinação não gerou a indução de efeitos tóxicos, a diminuição do número de células brancas, de perda de peso ou leucopenia nos animais, outro achado importante. “Não fez o animal sofrer, então é um grande benefício. Graças à terapia gênica, foi possível usar uma dosagem menor de quimioterápicos, controlar o crescimento do tumor e evitar os efeitos adversos”, adiciona Strauss.
O estudo foi desenvolvido nos últimos quatro anos. Agora, os pesquisadores pretendem avançar nas pesquisas a fim de explorar a abordagem do universo da imunoterapia. “Acredito que melhor do que matar algumas células do tumor é matar algumas células e, como consequência, disparar resposta imunológica para atacar o restante. Precisamos de mais um componente para cuidar das células que escapam ao vírus. E somente o sistema imune tem essa capacidade de procurar, identificar e eliminar”, explicou o professor. Num futuro de médio a longo prazo, daqui há pelo menos cinco anos, os cientistas pretendem avançar nos testes em humanos.


















