Por meio de uma política que estimula as operadoras de saúde suplementar a reconsiderar e reestruturar a Atenção Primária em Saúde (APS) prestada aos seus usuários, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) desde 2004 incentiva um pensamento mais amplo em saúde, sobretudo considerando uma assistência focada em práticas integradas e de cuidado que valorizem a prevenção de doenças e melhorem a qualidade de vida da população como um todo.
Pensando nisso, e em parceria técnica com a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS) no Brasil, a ANS idealizou o projeto “Laboratório de Inovação sobre Experiências de Atenção Primária na Saúde Suplementar Brasileira”, o qual tem como principal objetivo identificar esforços de operadoras de planos de saúde na implantação da APS e no acompanhamento de seus resultados para a promoção da sustentabilidade do setor.
Dentre os 12 selecionados está o projeto “Viver Mais”, modelo pioneiro da Unimed João Pessoa, na Paraíba, de Atenção Integral à Saúde, que, baseado em princípios de acessibilidade, integralidade, longitudinalidade e coordenação do cuidado, incorpora novas formas de prestação de serviços na instituição. “Trata-se de um modelo de atenção à saúde racional e sustentável, que viabiliza a ampliação do portfólio de produtos da cooperativa de acordo com as exigências atuais do mercado. Essa estratégia associa qualidade e efetividade na promoção da saúde”, retrata o documento da ANS.
Iniciada em 2016, como projeto-piloto, com cerca de cinco mil beneficiários, sendo estes colaboradores e seus dependentes, a implantação do modelo de saúde assistencial foi baseada na captação de beneficiários por meio de palestras, da intranet, do hotsite, de cartazes e de mensagens SMS. Mesmo disponível apenas para os funcionários da Unimed João Pessoa, o “Viver Mais” está em processo de adaptação e expansão para atender o mercado como um todo.
“Este projeto nos serve como uma ferramenta imprescindível para uma mudança no modelo de atenção, a qual a Unimed João Pessoa se determinou a realizar. Não queremos mais oferecer um plano de doenças, em que o beneficiário, no momento em que adoece, procura cuidados – sejam eles por meio da emergência do hospital ou de consulta com especialistas. O que queremos é ter, de fato, um plano de saúde por meio do qual o beneficiário será cuidado e seu percurso assistencial, monitorado, conduzido e orientado pelos profissionais”, destaca o assessor de Informações Estratégicas e Economia da Saúde da Unimed João Pessoa, Mario Toscano.

A unidade-teste do projeto possui uma recepção, duas áreas de espera (sendo uma com espaço para crianças), três consultórios médicos e um de enfermagem, e uma sala administrativa. Além disso, há hospitais – credenciados e da rede própria – para atendimento de pronto-socorro, realização de cirurgias e de exames laboratoriais, por exemplo.
A equipe do projeto-piloto tem médicos formados em Clínica Médica e em Pediatria, enfermeiras, recepcionistas e uma supervisora administrativa. Há também uma rede para atendimentos de nutrição e psicologia que funciona na própria unidade e é exclusiva para a carteira de beneficiários. O “Viver Mais” ainda oferece consultas eletivas e atendimentos de demanda aguda, e um sistema chamado MedicineOne, que armazena e reúne em um prontuário único as informações de cada paciente. A integração com os demais níveis de atenção – como o acesso à rede de especialistas – acontece por meio do encaminhamento do médico de referência. “Hoje, temos uma gestão das redes credenciada e própria mais bem estruturada. Por isso, para o produto que estamos adaptando para o mercado, queremos ter uma rede preferencial exclusiva para atender o ‘Viver Mais’ e a demanda do público. Já estamos, inclusive, projetando uma nova unidade para os atendimentos desse novo plano”, acrescenta Toscano.
Segundo o relatório da ANS, os resultados foram medidos a partir da sistematização Soap (Subjetivo, Objetivo, Avaliação e Plano) – desenvolvida por Lawrence Weed e que se tornou padrão para serviços de atenção primária – utilizando a Classificação Internacional de Atenção Primária (CIAP) 2; da porcentagem de encaminhamentos para especialistas, exceto oftalmologistas; da porcentagem de consultas no pronto-atendimento do hospital; do acesso à consulta médica em até 48 horas; do acompanhamento do desenvolvimento infantil em crianças menores de 1 ano, exclusivo para a Pediatria; e do preenchimento do Protocolo de Identificação do Idoso Vulnerável (VES 13), exclusivo para a Clínica Médica. Depois de seis meses de evolução do processo, os indicadores foram alterados para tempo médio para realização de consulta eletiva (com meta para tempo inferior a sete dias) e pontualidade médica. Os parâmetros de porcentagens de encaminhamento de pacientes para especialistas e para pronto-atendimento permaneceram inalterados.
“Nós conseguimos reduzir a ida desses beneficiários às portas de urgência em cerca de 30%, tanto na rede própria quanto na credenciada. Também houve redução do atendimento especializado em comparação com aumento de consultas de atenção primária. São números muito significativos em se tratando do cuidado com os beneficiários”, finaliza Toscano.


















