A pressão inflacionária deverá levar o banco central a manter o ciclo de aumento da taxa básica de juros ao longo dos próximos meses. Esse movimento prejudicará a atividade econômica no próximo ano, especialmente no primeiro semestre. Que venha 2023.
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A inflação permanece muito pressionada com os efeitos defasados do aumento do preço das commodities no mercado internacional, o aumento da tarifa de energia elétrica e os problemas com as cadeias de produção de produtos industrializados ao redor do mundo. A incerteza fiscal também tem alimentado esse processo inflacionário por conta do aumento do risco-país e, consequentemente, desvalorização da taxa de câmbio. Dessa forma, o IPCA atingiu 10,7% em outubro, acumulando 12 meses, e deverá subir um pouco mais neste fim de ano.
A atual pressão inflacionária está contaminando as expectativas de inflação dos próximos anos. O consenso dos economistas, captado pelo Relatório Focus, estima IPCA de 5,0% em 2022, acima do centro da meta em 3,5%. As estimativas para os anos subsequentes também subiram recentemente.
A resposta tradicional do banco central tem sido aumentar a taxa básica de juros, processo que deverá continuar nos próximos meses. A elevação da taxa Selic encarece o custo de capital, prejudica o desempenho do consumo das famílias e deteriora o ambiente para os investimentos das empresas. Assim, a demanda do setor privado deverá se estagnar nos próximos trimestres e o risco de recessão econômica não é desprezível.
Figura 1. Taxa de juros – Selic e mercado futuro.
Fonte: BCB e Bloomberg.
Isso não significa que estamos condenados ao desempenho medíocre da atividade para a eternidade. O próximo governo precisará realizar reformas estruturais importantes para conter os gastos públicos e manter a perspectiva de solvência fiscal a longo prazo. Essa possibilidade ajudaria a reduzir as incertezas e permitiria recuperação da atividade a médio prazo.
Além disso, não podemos esquecer da agenda de simplificação tributária e aumento da produtividade, medidas relevantes para gerar expansão da renda per capita de forma sustentada.
Portanto, a necessidade de controle inflacionário está exigindo aumento da taxa de juros para patamar muito restritivo, o que prejudicará o desempenho da atividade econômica no próximo ano. A recuperação econômica poderá voltar em 2023, se houver perspectiva de aprovação das sonhadas reformas estruturais no próximo governo.