Quem tem interesse em construir um patrimônio financeiramente sustentável sabe o quanto é importante prezar pelo próprio dinheiro. Porém, 6 em cada 10 brasileiros (58%) não gostam de dedicar tempo para cuidar das finanças pessoais. É o que aponta a pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
O levantamento foi realizado em todas as 27 capitais com 805 consumidores acima de 18 anos, de todas as classes sociais e de ambos os gêneros. Dos entrevistados, 17% admitiram que sempre ou frequentemente precisam recorrer ao cartão de crédito, cheque especial ou pedir dinheiro emprestado para conseguir fechar as contas do mês.
Por outro lado, a maioria dos participantes admitiu ter mais tranquilidade com uma vida financeira equilibrada — 56% se sentem melhor quando planejam as despesas para os próximos seis meses. Esse planejamento é fundamental para se ter o controle das receitas e das despesas de forma que, no fim, a conta fique positiva.
O economista e consultor do SEBRAE Sergio Dias atribui esse resultado às circunstâncias emocionais de como o brasileiro encara o dinheiro em sua vida. “Existem aqueles que não se preocupam com o dinheiro e gastam de forma indiscriminada, sempre na esperança de que tudo se resolverá a seu tempo. Há os que se preocupam e se programam para o futuro. Muitos de nós fomos criados de forma a tratar o dinheiro como uma coisa volátil e, dessa forma, não conseguimos lidar bem com as finanças.”
Planejamento financeiro: primeiro passo para colocar as contas em ordem
Para alcançar uma vida financeira equilibrada, é fundamental construir um planejamento rígido sobre como o seu dinheiro será usado no longo prazo. Infelizmente, apenas 48% dos brasileiros fazem esse planejamento cuidadoso para os meses seguintes. O percentual sobe para 51% entre as classes C, D e E.
Segundo Dias, é primordial para o profissional da saúde elaborar um plano financeiro, principalmente por conta de uma possível renda variável. “Esses ganhos flexíveis decorrentes de consultas, intervenções, serviços pessoais e outras atividades devem ser considerados nesse planejamento. Para isso, relacione as despesas fixas e as variáveis e inclua os ganhos regulares, como o seu salário, em uma planilha.”
A partir dessa classificação, compare sua renda com as despesas, para que tenha uma noção de quanto dinheiro está comprometido com suas contas. “Caso haja saldo positivo, a dica é investir. Guardar parte para alguma emergência, adquirir um bem ou mesmo uma viagem. Ao fazer isso, o profissional de saúde conseguirá equilibrar sua vida financeira e escapar dos juros altíssimos do cartão de crédito ou do cheque especial”, pontua Dias.
Crie objetivos alcançáveis para o seu dinheiro
Se planejar para realizar um sonho de consumo não é a realidade de 38% dos entrevistados, que nem sempre planejam o futuro. Apenas 48% afirmaram que estabelecem metas e as seguem à risca quando querem um bem de maior valor, como um carro ou uma casa. Entre as classes A e B, esse comportamento é mais corriqueiro, atingindo 59% dos brasileiros.
De acordo com Anderson Pellegrino, professor de Economia da IBE Conveniada FGV, não adianta ir em busca de dinheiro ou de um salário maior se você não for capaz de se relacionar bem com o rendimento que tem hoje. “Nesse caso, você estará sempre à procura de mais dinheiro para dar conta dos gastos que estão fora do seu controle. O ideal é ter um equilíbrio racional, estabelecer projetos para poupança e para consumo. Aprenda a provisionar valores ao longo do tempo, para atingir esses sonhos de curto, médio e longo prazo.”
Investimento: relacione-se bem com o seu dinheiro
Para conseguir um bom resultado, é importante observar, no ato de poupar, quais as melhores alternativas e oportunidades de produtos financeiros e aplicações. Quem consegue ter uma relação saudável com dinheiro ao longo do tempo e constrói um bom patrimônio não é apenas quem o utiliza de forma organizada e planejada, mas aquele que também escolhe as melhores opções para aplicar o seu dinheiro. Avalie os custos e as taxas administrativas sobre a aplicação escolhida, pesquise as opções de um banco para outro, o próprio tipo de aplicação financeira e quais oferecem o melhor retorno e seus riscos.
Uma vez exercido esse controle orçamentário pessoal ou familiar, tente conduzir o seu padrão de gasto dentro daquilo que você tem como receita. Além disso, trace metas de aplicações financeiras com o objetivo de ter um futuro sustentável, do ponto de vista patrimonial. “Por exemplo, se você pretende terminar o ano com R$ 10 mil poupados, isso significa pensar no quanto você precisa guardar por mês. Mas além disso, pondere se essa poupança cabe no seu padrão de gasto atual. A dica é estabelecer metas anuais ou a cada 6 meses, e que sejam factíveis, de forma que você consiga atingi-las com disciplina”, conclui Pellegrino.