O atual cenário econômico brasileiro fez com que boa parcela da população caísse em dívidas. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), 57,7% das famílias brasileiras estavam devendo no mês de outubro. Com a taxa básica de juros a 14% ao ano, sair dessa situação pode ser ainda mais complicado. Entretanto, é possível deixar a inadimplência – basta ter organização e paciência. O passo a passo proposto a seguir visa auxiliar nessa tarefa. Com as contas em dia, será muito mais fácil correr atrás dos seus sonhos.
Tenha real dimensão do problema. O primeiro passo é organizar suas dívidas para que se tenha noção do que está, de fato, acontecendo em suas finanças. “É necessário incluir todos os débitos, mesmo os ainda vincendos, como parcelas em cartão de crédito ou em lojas de crediário”, ensina Rafael Nogueira Pires, planejador financeiro CFP®, certificado pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF). Liste em uma planilha tanto os débitos quanto seus respectivos Custos Efetivos Totais (CET) – todas as taxas e encargos que deverão ser pagos ao contratar um empréstimo, incluindo os juros, tributos, seguros e tarifas.
Priorize as dívidas mais caras. São aquelas com juros e multas maiores, tradicionalmente cartão de crédito e cheque especial. Para que se tenha noção, suas taxas bateram 480,3% e 324,9% ao ano, respectivamente, em setembro. Por isso, elas crescem de maneira mais rápida do que os débitos com juros menores. “Caso essa atitude não seja tomada o quanto antes, essas dívidas se proliferam de maneira que podem dobrar em questão de meses”, alerta Marcio Barros, professor da IBE-FGV e doutor em Finanças.
Analise seu orçamento doméstico. Coloque no papel todos os compromissos financeiros, especialmente aqueles dedicados à manutenção da vida cotidiana – considere custos com moradia, alimentação, transporte, educação e também os pequenos gastos do dia a dia, que consomem parcela expressiva dos recursos mensais. Por último, liste suas fontes de renda, como salário, bonificações, PLR e afins. “Com isso, é possível fazer uma previsão dos gastos e rendimentos dos próximos 12 meses. Assim, o indivíduo pode se programar para não deixar de honrar suas contas”, diz Barros.
Faça cortes. Com esse panorama financeiro em mãos, também será possível observar quais despesas podem ser reduzidas ou cortadas para redirecionar mais recursos à quitação do débito. Essa redução de custos pode ser feita em diversas frentes, como diminuição das idas a restaurantes caros e controle de impulsos consumistas.
Determine o quanto você poderá pagar por mês. A fatia máxima do rendimento líquido que se pode comprometer para quitar o devido é de 30%. “Porém, o ideal é que fique em torno de 20%. Assim, você terá condições de poupar uma parcela da renda para constituir uma reserva de emergência, que será muito importante para evitar dívidas futuras”, ensina Barros. Se o percentual ultrapassar essa faixa, caso ocorra um imprevisto que o fará gastar mais que o comum, corre-se o risco de se endividar novamente para cobrir a despesa inesperada.
Renegocie com o credor. Ele é o principal interessado em obter o valor e, por isso, tende a estar aberto a negociações. Aqui, é possível renegociar desde o tamanho da dívida até a taxa de juros que incide sobre ela. “Durante a conversa, demonstre claramente sua situação e procure combinar, em conjunto com ele, um plano eficaz para honrar seus compromissos”, afirma Pires.
Troque dívidas caras por dívidas baratas. Se a causa de sua inadimplência forem débitos custosos, como cartão de crédito e cheque especial, vale a pena procurar outras modalidades de crédito com taxas de juros menores para quitá-los. De acordo com o planejador financeiro, as melhores opções dependem da situação do devedor. “Por exemplo, funcionários públicos, aposentados e pensionistas do INSS, ou funcionários de empresas privadas conveniadas aos bancos podem solicitar o crédito consignado com uma das melhores taxas do mercado”, aponta ele. Quem não se enquadra nessas categorias pode apelar para o crédito pessoal. O único cuidado aqui é não contratar o serviço via homebanking, pois os juros costumam ser maiores. A exceção fica para quem está com o nome sujo – neste caso, é altamente aconselhado focar as energias na renegociação.
Considere a portabilidade de crédito. Assim como na portabilidade de celular, é possível transferir gratuitamente sua dívida para outra instituição financeira que ofereça condições melhores. É importante avaliar com atenção os números e propostas oferecidas, principalmente o CET. “Muitas vezes, a taxa de juros é menor, mas o banco inclui no pacote a contratação de um outro produto financeiro que trará custo adicional, fazendo com que a troca não valha à pena”, frisa Barros. Por isso, não se contente com apenas uma proposta e pesquise em diversas instituições até tomar sua decisão.

















