A economista Zeina Latif foi eleita, em Assembleia Geral Extraordinária do último dia 10, como conselheira externa da Unimed Participações. Na última semana, ela conversou com a equipe de Comunicação da holding para uma análise dos efeitos da crise sobre a economia do país, os desafios das empresas, especialmente no setor da Saúde, a importância do planejamento financeiro familiar em momentos de adversidades e, também, sua expectativa para a atuação junto ao Sistema Unimed.
Confira a entrevista completa:
Conexão Unimed: Como você avalia o cenário econômico do país, atualmente, com todos os reflexos da maior crise sanitária em um século?
Zeina Latif: Quando falamos em cenário econômico, a variável-chave é o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). E a tendência, daqui para frente, é de uma acomodação, um crescimento mais modesto. Em 2021, a taxa de crescimento vai ser elevada porque a base de comparação do ano passado é baixa. Mas, quando olhamos a trajetória do ano na economia, será um período de baixo crescimento ou de estagnação. Não vejo motores para mudar essa realidade.
Uma parte importante da reativação do ano passado foi sustentada por políticas públicas (estímulos fiscais). O Brasil gastou muito em comparação a países emergentes e, mais ainda, se considerarmos as fragilidades das nossas contas públicas. O problema disso é que uma hora a fatura chega e ela já vem aparecendo: a aceleração da inflação e alta de juros do Banco Central.
O que temos são empresas que estão melhor posicionadas, que têm mais condições de lidar com o Custo Brasil, que fizeram investimentos para digitalização e automação, que têm tido ganhos de produtividade, estão em setores mais blindados e, por isso, terão uma performance superior à média do PIB. A mesma coisa serve para o mercado de trabalho, em que notamos algumas vagas desaparecendo e falta de mão de obra qualificada para essa nova realidade tecnológica.
Conexão: Mesmo com o avanço da vacinação, há um olhar atento para a variante Delta. Nesse contexto, quais são as previsões para retomada econômica no Brasil?
Zeina: Mesmo com todos os riscos associados com a segunda onda, o grau de adesão da sociedade ao isolamento social foi bem menor. Por esse aspecto, não acredito que as pessoas vão mudar os seus hábitos. Há muita pressão da sociedade para esses relaxamentos, em função do próprio quadro econômico.
Vamos continuar tendo impacto na economia, ainda que não seja algo expressivo no curto prazo. Quanto mais tempo tivermos essas preocupações na área da saúde, maior a pressão nas contas públicas e na inflação, além de custos para as empresas. Tudo isso impede a normalização plena da economia.
Conexão: Nos últimos tempos, as pessoas passaram a se atentar mais para a relevância de um planejamento financeiro familiar, apesar da poupança não ser uma cultura entre os brasileiros. Qual a importância dessas reservas em momentos de adversidades?
Zeina: O Brasil é um país onde as famílias poupam pouco, se preparam pouco para a velhice e momentos de contingência. É muito importante ter esse aprendizado agora. Há questões culturais no Brasil com relação à poupança que prejudicam a economia como um todo. Afinal é menor o fluxo de recursos no mercado financeiro para ser canalizado em investimento produtivo, o que significa juros mais elevados e maior dificuldade de acesso ao crédito.
Há produtos financeiros que ajudam nesse planejamento familiar. E existe, portanto, a oportunidade de crescimento desse setor. Lembrando que a poupança a longo prazo favorece o crescimento econômico.
Conexão: Qual a sua visão sobre o mercado de saúde suplementar em meio ao contexto econômico atual? E quais os desafios para o Sistema Unimed?
Zeina: Vimos, no ano passado, um movimento de represamento da procura das pessoas por serviços médicos, em função do medo da Covid-19. E isso tem aumentado bastante a sinistralidade agora. Ao mesmo tempo, existe um aumento de custos dos serviços médicos, que cresce acima da inflação.
Por outro lado, a pandemia gerou uma mudança cultural importante. As pessoas estão mais preocupadas com a sua saúde e isso gera uma busca maior por esse ecossistema da saúde. Ou seja, há grandes desafios e boas oportunidades também.
Conexão: Qual a sua expectativa como conselheira externa na Unimed Participações?
Zeina: Cada vez mais busco me aprofundar na dinâmica de setores que julgo importantes para o funcionamento da economia. E o setor da saúde me interessa, particularmente. Ao mesmo tempo, busco compreender os problemas brasileiros. Então, a minha intenção como conselheira da Unimed Participações é ajudar o Sistema Unimed em seus desafios, com um olhar de fora e sob a ótica de uma economista.
Saiba mais sobre Zeina Latif
Zeina Latif é graduada em Economia e possui mestrado e doutorado pela Universidade de São Paulo (USP). Profissional reconhecida no mercado financeiro e eleita uma das mulheres mais influentes pela Revista Forbes, ela possui passagem pela XP Investimentos (Economista Chefe), The Royal Bank of Scotland (Economista Sênior para América Latina), ING Bank (Economista Chefe para Brasil), ABN AMRO Real (Economista Chefe) e HSBC Asset Management (Economista Chefe). Atualmente, é Consultora Econômica da Gibraltar Consulting Economia e colunista do jornal O Globo.
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