O Banco Central do Brasil anunciou que pretende encerrar o ciclo de aumento da taxa básica de juros em maio, com uma última elevação para 12,75% a.a. Esse patamar da taxa Selic é substancialmente restritivo e pesará sobre a atividade econômica ao longo dos próximos trimestres, o que permitirá redução da inflação após o fim dos choques de commodities no mercado internacional.
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A inflação permanece muito alta, acima de 10% acumulada em doze meses. O banco central divulgou estudo com os principais motivos para o desvio da inflação em relação à meta no ano passado. O IPCA ficou 6,3 pontos percentuais acima do centro da meta, sendo que grande parte foi causada por fatores não controlados pela autoridade monetária. O aumento do preço de commodities no mercado internacional contribuiu com 3,7 p.p., especialmente o petróleo. Outro fator relevante foi a necessidade de acionamento das usinas térmicas e adoção da bandeira de escassez hídrica, que contribuiu com mais 0,7 p.p. Apenas esses dois itens já representaram 70% do desvio da inflação em relação à meta, isso sem considerar os evidentes problemas nas cadeias de produção ao redor do mundo.
O documento revela ainda que o hiato (ociosidade da economia brasileira) contribuiu negativamente para a inflação com 1,2 p.p. Isso significa que a atividade econômica não pressionou a inflação, tampouco poderia, com o desemprego elevado.
Assim, parcela majoritária do aumento da inflação foi consequência da elevação do preço das commodities no mercado internacional, da necessidade de acionamento das usinas térmicas e problemas na cadeia de produção mundial. Apesar desse diagnóstico, o remédio utilizado tem sido o aumento da taxa de juros para terreno extremamente contracionista.
As famílias estão com o maior nível de endividamento da série histórica do banco central e, consequentemente, estão utilizando cerca de 28% da renda para honrar seus compromissos financeiros (mesmo excluindo financiamento habitacional). O aumento da taxa de juros elevará o comprometimento de renda com serviço de dívida e reduzirá o poder de compra da população nos próximos trimestres.
O fraco desempenho do consumo dificultará o aumento de preços e as empresas precisarão ajustar seus custos de produção para equilibrar suas margens. Importante lembrar que as vendas no varejo já estão estagnadas há vários meses, como mostra a Figura 1, ainda sem efeito pleno ao aumento da taxa Selic.
Figura 1. Vendas no varejo.
Fonte: IBGE.
Assim, a taxa de juros está temporariamente acima do equilíbrio para conter uma disseminação maior dos choques sobre a inflação. Quando os preços das commodities estabilizarem (ou caírem), as pressões inflacionárias diminuirão e a taxa Selic poderá ser reduzida em direção à normalidade.
Portanto, finalmente estamos nos aproximando do fim do ciclo de aumento da taxa de juros. O fraco desempenho da atividade econômica ajudará no processo de redução da inflação, especialmente no segundo semestre deste ano.