Após muito desaforo, a esperada recuperação da atividade econômica será postergada mais uma vez. Alguns acontecimentos nas últimas semanas devem prejudicar a confiança dos empresários e, consequentemente, deteriorar as decisões de investimentos e reduzir a contratação de novos trabalhadores. Esse ambiente de maior incerteza e volatilidade sugere cautela para as nossas finanças e, por outro lado, a possibilidade de novas oportunidades.
A principal fonte de incerteza é a eleição de outubro. O próximo presidente da República precisará elaborar uma ampla reforma da Previdência, e o novo Congresso Nacional deverá aprová-la rapidamente. O debate político ainda não fornece visibilidade suficiente de que as medidas necessárias para manter nossa solvência fiscal serão aprovadas no tempo adequado.
Um dado ajuda a explicar de forma muito simples a urgência das reformas. Em 2017, a taxa de dependência foi de 12% (para cada 100 pessoas em idade ativa, existiam 12 pessoas acima de 65 anos), e o déficit da Previdência atingiu o elevado patamar de R$ 182 bilhões (2,8% do PIB). Nos próximos anos, o envelhecimento populacional levará a taxa de dependência para 16%, em 2025, e 36%, em 2050. Não precisamos fazer muita conta para perceber que a solvência fiscal ficará comprometida com o atual regime previdenciário.
Outra fonte de deterioração do cenário foi a paralisação dos caminhoneiros, que está prejudicando substancialmente a atividade desse trimestre. Diversos setores foram negativamente afetados por conta da falta de insumos e a impossibilidade de locomoção. Um exemplo foi a dramática queda de 28% da produção de veículos em maio com relação à abril, com ajuste sazonal.
As intervenções e concessões do governo a alguns segmentos da economia geram distorções. Além de deteriorar as contas públicas, sustenta a percepção de que todos nós precisaremos pagar mais impostos para o bem-estar de poucos.
Portanto, o cenário econômico está ficando mais complexo, e os ativos financeiros tendem a refletir essas incertezas nos seus preços. Esse ambiente exige muita cautela e disciplina nas decisões de investimentos, pois o que parece barato hoje pode ficar ainda mais barato amanhã. Por outro lado, é importante lembrar que grandes oportunidades também poderão surgir nos próximos meses.