Prezado leitor,
Passarei a contribuir para o Conexão, da Seguros Unimed, na editoria de Gestão e Finanças. Atualmente, sou economista e estrategista em uma renomada instituição do mercado financeiro e também leciono nos cursos de pós-graduação do Insper. Convido todos os leitores a uma discussão aberta e produtiva sobre cenários e investimentos.
A atividade econômica está em recuperação desde o início do ano passado e deverá melhorar nos próximos trimestres. O principal motivo desse otimismo cíclico é bastante simples, o Banco Central do Brasil reduziu substancialmente a taxa básica de juros (taxa Selic), e o governo está aumentando os gastos públicos.
A taxa Selic caiu de 14,25% ao ano em outubro de 2016 para 6,50% ao ano em março de 2018. Nesse período, a taxa de juros média para pessoa física caiu de 43% ao ano para 33% ao ano, e os novos de empréstimos aumentaram 15%, com ajuste sazonal. Essa recuperação do mercado de crédito ajuda a explicar o crescimento das vendas de varejo em 7,8% em março desse ano em relação ao mesmo mês do ano passado, especialmente as vendas de automóveis.
A redução da taxa de juros também gera a possibilidade de renegociação de dívida passada por outra de menor custo. Imagine um indivíduo que tomou um crédito pessoal no início do ano passado a uma taxa de juros de 55% ao ano e percebe que o seu banco está oferecendo, nesse momento, a mesma linha de crédito a 46% ao ano. Essa pessoa pode tentar renegociar o custo da dívida com o credor ou realizar a portabilidade da dívida para outra instituição financeira. Esse processo libera renda para o consumo.
Não podemos menosprezar o aumento do gasto do governo nesse ano eleitoral. O Ministério da Fazenda estima que a política fiscal deva gerar um importante estímulo para a atividade em 0,5 p.p. do PIB. Nada mal.
Alguns riscos podem atrapalhar esse otimismo com a recuperação da atividade. A necessidade de aprovação de reformas fiscais no início do próximo ano coloca as eleições como principal fonte de incerteza local. Do lado externo, uma eventual aceleração no ritmo de aumento de juros nos Estados Unidos poderá fortalecer o dólar e gerar instabilidade na nossa taxa de câmbio.
Portanto, acredito que dessa vez não será diferente. Estímulos monetários e fiscais sempre impulsionaram temporariamente a nossa economia, e isso deverá acontecer novamente nos próximos trimestres. Isso não significa necessariamente otimismo com o longo prazo, pois a sustentabilidade de um bom ritmo de crescimento depende da nossa responsabilidade em outubro.