Os atendimentos eletivos foram muito impactados ao longo da pandemia. Em março de 2020, quando a propagação do surto se intensificou no País, consultas e procedimentos que não tinham caráter de urgência começaram a ser postergados, por decisão dos gestores de instituições de saúde ou dos próprios pacientes.
Segundo levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), quase 30 milhões de procedimentos médicos deixaram de ser realizados nos ambulatórios do Sistema Único de Saúde (SUS) entre março e dezembro de 2020 na comparação com o mesmo período de 2019.
Clínicas e consultórios que não atuam com as especialidades relacionadas à crise também registraram elevada retração na procura dos pacientes e o consequente comprometimento da lucratividade. A situação, entretanto, já começa a se reverter graças ao avanço da vacinação. O CFM demonstra que cirurgias e atendimentos já voltaram a subir, com alta de 20% nos procedimentos médicos eletivos apenas no primeiro semestre de 2021 em comparação com os primeiros seis meses do ano anterior.
Mesmo nesse contexto de alta em relação a 2020, o número de atendimentos deste ano ainda é cerca de 20% menor se comparado com primeiro semestre de 2019. Ou seja, ainda há uma defasagem considerável e que deve ser ajustada nos próximos meses.
O que está por vir?
“Entendemos que, a partir de 2022, teremos o retorno paulatino de 70% desses procedimentos postergados, somados aos procedimentos normais, o que esbarrará na capacidade de atendimento dos serviços”, avalia Marcelo Martinovich, economista, professor e coordenador de curso da Faculdade Unimed.
A perspectiva é preocupante, sobretudo para gestores públicos, que, em todo o País, já estão se organizando para colocar os atendimentos em dia. O governo do Distrito Federal, por exemplo, estima que a demanda reprimida está afetando 40 mil pessoas que aguardam cirurgia eletiva. Para dar conta do desafio, o GDF criou uma força-tarefa e adotou medidas para realizar mais atendimentos, como a nomeação de profissionais e a abertura de terceiro turno para cirurgias, entre outros pontos.
Consultórios, clínicas, laboratórios e demais instituições de saúde também devem avaliar o cenário para definir como vão gerenciar a demanda cotidiana com a demanda reprimida. Martinovich aponta que toda a cadeia do setor vai ser impacta pelo aumento na procura dos pacientes, “portanto, se faz necessário o preparo e planejamento na gestão desse aumento de demandas”.
A questão é: como administrar a alta na demanda? As práticas adotadas variam de acordo com o tamanho e a área de atuação de cada instituição, ou seja, é essencial reconhecer as características específicas do seu negócio para encontrar o melhor caminho. No entanto, a adequação deve observar os seguintes aspectos centrais:
- Avalie a demanda para a sua empresa
Sabemos que há demanda represada para atendimentos eletivos, como consultas, procedimentos e cirurgias. Qualquer dado geral, nesse sentido, vai refletir a média do segmento ou, ainda, a média relacionada a uma determinada especialidade, por exemplo. Essas informações ajudam a dimensionar um possível impacto sobre o seu negócio, mas nada melhor do que trabalhar com números específicos da sua empresa para ter uma visão mais clara da situação.
Busque informações sobre atendimentos eletivos realizados no primeiro semestre dos anos de 2019, 2020 e 2021. Compare os números para verificar qual foi a variação ano a ano. Essa análise vai ajudá-lo a perceber em que medida os atendimentos estão aumentando e se o número atual ainda é inferior à demanda registrada em 2019.
- Faça projeções
Com base nos números relativos ao seu negócio, projete cenários. Uma forma de prever a evolução nos atendimentos é aplicar os percentuais de crescimento observados no período recente. Por exemplo, se houve um aumento de 40% na procura durante o primeiro semestre de 2021 em comparação com o mesmo período do ano anterior, calcule que essa mesma margem de crescimento possa ocorrer no segundo semestre de 2021.
A projeção deve trazer mais previsibilidade, mas é importante construir diferentes cenários, isto é, considerar que os dados projetados podem ser um pouco superiores ou inferiores. Assim, você consegue se preparar caso haja desvios nos números.
- Organize-se
Tendo em vista os cenários traçados, qual é a sua capacidade de atendimento e quais são os ajustes necessários para dar conta? Lembre-se de que a demanda reprimida pode se somar à procura rotineira. A gestão, dessa forma, deve rever toda a sua estrutura, principalmente se promoveu cortes durante a pandemia. Talvez seja necessário reorganizar a agenda, contratar novos colaboradores ou fazer outros investimentos. Essa decisão vai depender do contexto e do acompanhamento de indicadores para ser mais assertiva.
- Melhore a comunicação interna e externa
A comunicação é a melhor forma de ajustar a situação e alinhar expectativas. Fortaleça o contato com os seus clientes, aumentando as informações transmitidas sobre canais de atendimento e horários. Tenha uma equipe dedicada a acompanhar a demanda dos pacientes e a responder suas dúvidas com agilidade.
Comunicação interna também é importante. Oriente suas equipes sobre a possibilidade de aumento na demanda, indicando como os colaboradores devem agir nesse caso. Essas interações com clientes e funcionários são valiosas para mensurar a alta na procura e também a satisfação com o serviço que você está prestando.
Em paralelo, aprimore a gestão financeira da sua clínica e gerencie a alta de custos para reduzir o impacto da inflação sobre o seu negócio.