A despeito da crise, este ano será promissor para o setor da saúde com as fusões e aquisições que estão no radar do mercado. Mesmo em meio ao cenário da pandemia, apenas em 2020, o País registrou 60 negociações que, ao todo, movimentaram US$ 1,088 bilhão. Já em 2019, foram 73 – somando um montante de US$ 1,641 bilhão.
Essas informações são do levantamento realizado pela RGS Partners, especializada em fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês).
“Como o setor de saúde é bastante resiliente a crises e o Brasil tem uma carência muito grande de serviços, apesar do SUS, ainda existe uma lacuna que precisa ser preenchida. Isso torna o setor muito atrativo para os investidores”, diz André Pimentel, sócio da consultoria Performa Partners, que também atua em M&As.
Além disso, a maneira que as empresas coexistem no setor ainda é muito fragmentada– ou seja, é grande o número de negócios de pequeno e médio porte, dando espaço para a forte onda de consolidação.
“Temos mais de 4.200 hospitais privados e 700 operadoras de saúde no Brasil. Isso dá espaço para a formação de grandes grupos consolidadores. Com o apoio do mercado de capitais, se formaram grandes grupos com muito poder econômico”, explicam Osias Brito e Maurício Nozawa, sócios fundadores da BR Finance, boutique de investimentos especializada em fusões e aquisições.
Para que se tenha ideia, dentre as dez empresas mais valiosas da bolsa, duas são do setor de saúde, sendo uma delas a Rede D’Or, com valor de mercado de R$ 142 bilhões.
O grande objetivo dessa movimentação é acelerar o crescimento, ganhar escala e otimizar os custos. “Neste intuito, esses grandes grupos capitalizados vão em busca de aquisições de hospitais, operadoras de saúde, redes de laboratórios, healthtechs e redes de clínicas”, completam Brito e Nozawa.
O que estes dados dizem sobre o atual momento do setor da saúde?
“Este movimento tende a concentrar o mercado. Trata-se de uma tendência de consolidação já que, toda vez que vão ao mercado, essas empresas conseguem mais dinheiro para mais aquisições”, adiciona Luís Mazzarella Martins, sócio da JK Capital, que também cuida de M&As.
Como as fusões e aquisições podem impactar seu negócio em saúde?
Se você é gestor de um consultório ou clínica, pode sentir essa movimentação de forma mais atenuada ou intensa.
Para Martins, o impacto pode não ser tão grande em negócios especializados em consultas. “A redução de custos que essas grandes operações buscam não está necessariamente no consultório.”
No entanto, do jeito que as M&As estão se desenrolando, negócios de pequeno porte não costumam ser alvos de aquisições – e isso pede cuidado. Haverá aumento na concorrência, uma vez que as fusões e aquisições estão criando negócios especializados, como grandes clínicas de oftalmologia e oncologia.
“Os consultórios e clínicas menores precisam ficar atentos às fontes pagadoras, já que, com a consolidação do setor, os planos de saúde tendem a ser mais criteriosos com sua rede credenciada”, alertam Brito e Nozawa.
Eles também reiteram que novas tecnologias devem estar no radar dos negócios em saúde, independente do tamanho. “Os grandes grupos estão investindo fortemente em tecnologia e algumas especialidades da medicina, tais como radiologia, podem ser muito afetadas, pois exames que antes eram feitos por médicos, poderão ser feitos com o uso de inteligência artificial.”
Por outro lado, de acordo com Brito e Nozawa, clínicas ou consultórios que possuam mais de uma unidade, faturem mais de R$ 30 milhões por ano, consigam ser escaláveis e prestem um serviço de alta qualidade, podem ser considerados investidores.
Se a venda ou fusão está em seus planos, anote as dicas dos sócios da BR Finance: é recomendado tornar o negócio escalável, ou seja, pronto para o crescimento, para que o investidor enxergue o potencial para que seu consultório se torne uma rede.
“Além disso, vale prestar um serviço de qualidade fortalece a sua marca, o que permite cobrar melhor pela consulta e atrai mais pacientes; investir em tecnologia para prestar serviços diferenciados, baixar custos e atender melhor o paciente; e, por fim, pensar em rentabilidade, visto que, quanto melhor a rentabilidade de seu negócio, mais valorizado e atrativo ele será”, aconselham.
E, caso um investidor bata à sua porta, faça o possível para ser ágil. “Em fusões e aquisições, timing é tudo. Ouça o que ele tem a oferecer. Estar bem preparado, para esse momento, aumenta muito o sucesso de uma boa negociação”, amarram Brito e Nozawa.
Se a venda ou fusão não estiver em seus planos – ou seu negócio não estiver apto a essas transações –, a diferenciação é o segredo.
“Nestes casos, não há condições de se tornar competitivo por preço, então, é preciso se diferenciar de alguma forma, como proporcionando um nível de serviço excelente. Por exemplo, dependendo do público, oferecer localização central, estacionamento com vallet, conforto, flexibilidade no agendamento e a contratação de médicos de renome na área”, finaliza Pimentel.