A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), em adolescentes, pode ter origem em hábitos nos primeiros anos de vida e até mesmo antes do nascimento. É o que afirma uma pesquisa publicada no Journal of Hepatology, por pesquisadores de universidades e hospitais australianos.
O estudo analisou a saúde de 1.170 adolescentes, com 17 anos, idade final da adolescência. Com base nos resultados de ultrassonografias, 15,2% dos jovens foram diagnosticados com a doença hepática gordurosa não alcoólica, que é a presença de gordura no fígado em pessoas que não consomem quantidades excessivas de álcool ou determinados medicamentos.
Segundo os pesquisadores, as associações feitas anteriormente entre nutrição infantil e o diagnóstico da doença eram inadequados. Por isso, reexaminaram a associação de fatores maternos e nutrição infantil, com o diagnóstico de DHGNA em adolescentes.
Foram confirmados que os primeiros fatores para o surgimento da patologia são o ganho de adiposidade, a nutrição e o estilo de vida sedentária durante a infância. Entretanto, uma das características associadas à doença, nesta faixa etária, foi a relação da obesidade materna pré-gravidez e a duração da amamentação, exclusivamente no peito.
Obesidade materna e amamentação
O estudo concluiu que alguns fatores reduzem as chances de DHGNA na adolescência. Entre eles, estão o controle de peso da mãe antes e durante a gravidez, além da amamentação iniciada no nascimento e continuada por 6 meses ou mais, antes de iniciar o consumo de leite na fórmula infantil.
Dos adolescentes com a DHGNA, 94% foram amamentados nos primeiros meses de vida. Os adolescentes amamentados por mais de 6 meses apresentaram perfil metabólico menos adverso em comparação com os amamentados por menos de 6 meses.
Destes, 54,4% tiveram a amamentação exclusiva no peito, antes de iniciar o leite suplementar, até os 4 meses e 40,6% até os 6 meses. A ingestão suplementar de leite, a partir de 6 meses, foi associada à maior prevalência e complexidade da doença na adolescência se comparada com a ingestão iniciada após 6 meses.
Para Priscila Cukier, endocrinologista do Hospital Santa Catarina, apesar de a obesidade materna e a amamentação se destacarem como fatores para o surgimento do DHGNA na adolescência, seus fatores determinantes ainda são os hábitos alimentares e o sedentarismo infantil. “Sabemos que predisposições podem influenciar a doença, mas uma criança estimulada a ter uma alimentação saudável e praticar exercícios físicos com regularidade reduzirá esses riscos na adolescência.”
Entretanto não exclui os riscos do excesso de gordura corporal antes e durante a gestação. “O controle de peso é fundamental para a saúde da mãe e do bebê. Pode evitar diversas complicações, inclusive no parto. Orientamos as mulheres que estejam muito acima do peso e desejam engravidar que façam tratamento contra a obesidade.”
Sobre a relação com a amamentação exclusiva no peito, a endocrinologista ressalta sua importância, mas destaca que ela, por si só, não garante a ausência da doença hepática no futuro, apesar de influenciar no desenvolvimento cardiometabolico do bebê, o que diminui as chances de síndrome metabólica.
Com o estudo, os pesquisadores acreditam que, para a redução do risco de DHGNA em adolescentes, é preciso adotar medidas antes do nascimento, incentivando o índice de massa corporal normal antes da gravidez e a amamentação sem consumo de leite complementar nos primeiros 6 meses de vida.