É na melhor das intenções que alguém toma a decisão de ajudar um parente ou amigo financeiramente. Essa “forcinha” pode vir por meio do empréstimo de uma quantia em dinheiro ou do chamado “empréstimo de nome” – aquele em que uma pessoa contrai a dívida para a outra em seu nome. Seja qual for a forma, entretanto, essas escolhas são muito pouco indicadas pelos especialistas. Nesse texto você entende os motivos.
O risco financeiro
Já estar com o nome inscrito em um cadastro de inadimplentes ou não conseguir ter acesso à modalidade de crédito desejada são alguns dos principais motivos que levam alguém a pedir auxílio financeiro a conhecidos. E esses fatores, por si só, já dão uma ideia dos riscos financeiros envolvidos no empréstimo.
“No geral, ao fazerem esse pedido, as pessoas já estão com a vida financeira desestruturada. Assim, a chance de pagarem a quantia devida é muito menor”, explica Marcela Kawauti, economista-chefe do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
Ao emprestar o dinheiro a alguém, o grande risco financeiro que você corre é o de não receber – e não poder contar com aquela quantia na hora que precisar. Já no caso da contração de uma dívida no cartão de crédito, financiamento ou empréstimo, se a pessoa deixar de pagar o que deve, você precisará arcar com o débito e as consequências de uma possível negativação. “Quem emprestou o nome é o único responsável legal por aquela dívida e todos os prejuízos envolvidos no atraso serão dela”, explica o educador financeiro Pedro Braggio.
E a situação não é rara: uma pesquisa divulgada pelo SPC Brasil este ano apontou que 17% dos inadimplentes no Brasil chegaram a essa situação depois de um empréstimo de nome. O estudo mostrou ainda que 41% das pessoas nessa situação precisaram arcar sozinhas com os pagamentos.
“Nossa recomendação é: não empreste dinheiro a amigos e parentes. Mas, se for fazê-lo, é menos arriscado entregar o dinheiro na mão da pessoa do que emprestar o nome”, coloca Marcela.
O prejuízo para os relacionamentos
Mesmo ciente dos riscos financeiros, a grande barreira que impede as pessoas de dizerem “não” a familiares e amigos na hora de emprestar dinheiro é a intimidade. “Por mais difícil que seja, entretanto, é preciso racionalizar a decisão”, explica Marcela. Depois de atrasos e várias cobranças, a verdade é que o efeito de uma dívida pendente pode ser ainda mais prejudicial ao relacionamento do que a recusa da proposta inicial.
A pesquisa do SPC Brasil, por exemplo, mostrou que em quase 70% dos empréstimos de nome a relação pessoal saiu abalada. “O atraso do pagamento causa um desgaste muito difícil de ser reparado. Muitas vezes a própria pessoa que pediu o empréstimo e não tem dinheiro para pagá-lo acaba se distanciando e isso prejudica ainda mais a relação”, explica Braggio.
A importância da independência financeira
Além dos riscos, o educador financeiro chama a atenção para a importância da independência financeira de cada um. Muita gente tem em algum membro da família uma “muleta” para momentos de maior aperto financeiro. Quando essa situação se torna recorrente, entretanto, o especialista explica que emprestar a quantia todas as vezes não trará benefícios à pessoa.
“É comum, por exemplo, entre pais e filhos que uma parte faça o empréstimo já como uma doação, sabendo que não vai receber. Para que a pessoa amadureça financeiramente, entretanto, é essencial que ela saia da sua zona de conforto e aprenda a tomar decisões mais assertivas”, conclui.