Sabemos que uma boa noite de sono, com média de oito horas de duração, é essencial para ter mais qualidade de vida. A novidade, agora, é que há um horário exato para dormir e, consequentemente, diminuir os riscos de desenvolver doenças cardiovasculares.
É o que sugere um estudo feito por pesquisadores da UK Biobank, publicado no periódico científico European Heart Journal, em novembro de 2021.
Os cientistas decidiram investigar qual o horário mais apropriado para evitar tais complicações à saúde. De acordo com as análises feitas, a equipe concluiu que quem dorme entre as 22h e 23h tem menos propensão às doenças cardíacas.
Os autores explicam, no entanto, que não é possível concluir a causalidade do estudo, por mais que o resultado apresente potenciais riscos à saúde dependendo da hora em que a pessoa vai dormir.
“O horário mais arriscado é depois da meia-noite, porque pode reduzir a probabilidade de ver a luz da manhã, o que zera o relógio biológico”, disse David Plans, um dos autores do estudo, da Universidade de Exeter, na Inglaterra, à BBC.
Como o estudo foi feito e quais foram os resultados
Para realizar o estudo, os pesquisadores recrutaram, entre 2006 e 2010, 88 mil voluntários – sendo 58% mulheres – com idades entre 43 e 79 anos.
Eles acoplaram, por sete dias, um acelerômetro ao pulso dos participantes para saber a hora exata em que iam dormir. O grupo também colheu informações a partir de um questionário sobre aspectos físicos, demográficos, de saúde e estilo de vida de cada um.
As pessoas que participaram da pesquisa foram acompanhadas entre cinco e sete anos, em média. Durante esse período, 3.172 delas (3,6%) desenvolveram doenças cardiovasculares, com os seguintes destaques:
- o número de casos foi menor entre aqueles que iam dormir entre as 22h e 23h;
- quanto aos participantes que iam se deitar antes das 22h, as incidências de doenças cardíacas foram 24% maiores;
- entre aqueles que dormiam entre 23h e 23h59, o índice foi maior em 12%;
- já entre os que só começavam a dormir à meia-noite ou mais tarde, o risco registrado foi 25% maior.
Mulheres sentem mais impactos à saúde: qual o motivo?
Na conclusão do estudo, os autores explicam que o risco de desenvolver doenças cardiovasculares foi maior em mulheres. Em homens, apenas o hábito de dormir antes das 22h demonstrou risco significativo.
Os cientistas disseram que ainda não há uma explicação sólida para esses indícios relacionados ao gênero. Entretanto, a faixa etária delas pode ter gerado esse resultado, já que o risco de problemas no coração aumenta após a menopausa.
“Pode ser que haja uma diferença com relação ao sexo em como o sistema endócrino responde a uma interrupção no ritmo circadiano. Além disso, a idade mais avançada dos participantes do estudo pode ser um fator de confusão, uma vez que o risco cardiovascular das mulheres aumenta após a menopausa – o que significa que pode não haver diferença na força da associação entre mulheres e homens”, esclarece o autor à BBC.
O ciclo circadiano – citado pelo cientista – é o ritmo estipulado pelo nosso organismo, em 24 horas, que regula o momento em que vamos dormir e a hora de começar o dia – tudo isso incentivado pela atividade de alguns hormônios, como a melatonina e o cortisol. Pessoas que trocam o dia pela noite, por exemplo, sentem diversos efeitos negativos na saúde.
Qual importância do estudo
Os autores destacam que as descobertas não mostram uma relação direta entre o horário de dormir e os problemas cardíacos.
Na verdade, eles pontuam que ainda precisam ser feitos mais estudos para determinar como a hora em que as pessoas pegam no sono pode ser um grande fator de risco para elas.
No entanto, eles reforçam que os dados indicam que esse hábito de dormir durante o horário sugerido, entre as 22h e 23h, pode se tornar uma meta de saúde pública.
“Se nossas descobertas forem confirmadas em outros estudos, o horário e a higiene básica do sono podem ser uma meta de saúde pública de baixo custo para reduzir o risco de doenças cardíacas”, diz o professor à BBC.