A tecnologia sempre andou lado a lado da saúde – e este movimento vem acelerando com ajuda das healthtechs, as startups do segmento.
Trata-se da junção das palavras em inglês “health”, saúde, e “tech”, tecnologia. Mais do que inovar, essa combinação vem trabalhando para salvar vidas e melhorar a qualidade de vida dos assistidos.
Aqui, estamos falando de inovações tecnológicas que buscam a prevenção de doenças, estreitar a relação médico-paciente e até usar dados para personalizar o atendimento e melhorar a gestão de negócios da saúde.
“Uma das principais mudanças que percebemos no último ano é que finalmente muitas instituições perceberam que não podem mais adiar o uso de tecnologia, seja para aperfeiçoar processos, se tornarem mais eficientes ou melhorar a experiência dos pacientes e prestadores”, diz Ihvi Maria Aidukaitis, presidente da Associação Brasileira de Startups de Saúde (ABSS).
Como healthtechs podem facilitar o dia a dia de clínicas e profissionais da saúde
Para que se tenha ideia, hoje já são 501 empresas de saúde cadastradas no StartupBase, base de dados do ecossistema brasileiro de startups. Já o Distrito Healthtech Report de 2020 mapeou mais de 540 startups da área.
As mais de 500 healthtechs brasileiras estão mudando o mercado da saúde – e podem inovar a forma de médicos e gestores de saúde trabalharem, visto que oferecem inúmeras soluções.
Apenas o Distrito – plataforma de inovação aberta que também trabalha com startups de saúde –, são 14 categorias diferentes. Elas vão de Medical Devices, gestão e telemedicina até diagnósticos e pesquisa de novos medicamentos, próteses e órteses 3D.
A Associação Brasileira de Startups de Saúde aponta que a tecnologia pode ser usada em diversas etapas da jornada do cuidado, sendo os principais usos:
- AI & Big Data: soluções em saúde que utilizam tecnologias de inteligência artificial e big data para aumentar a eficiência, identificar padrões e desvios e prevenir ocasionalidades;
- Acesso à informação: tecnologias para promover o acesso à informação de saúde para profissionais e pacientes;
- Farmacêutica e Diagnóstico: soluções relacionadas à novas formas de atuação na medicina diagnóstica e farmacêutica;
- Gestão e PEP (Plano Executivo do Projeto): Plataformas que oferecem ferramentas de gestão e prontuários para profissionais, clínicas, hospitais e laboratórios;
- Marketplaces: ofertas de serviços ou produtos a partir de diversos fornecedores. Trazem como principal benefício maior variedade e poder de escolha para quem busca um produto ou serviço e maior demanda para quem fornece.
- Medical Devices: Softwares ou hardwares que são utilizados por profissionais da saúde com o objetivo de diagnosticar, prevenir e tratar enfermidades, incluindo algoritmos e sistemas de apoio à decisão.
- Engajamento e relacionamento com pacientes: soluções voltadas para facilitar a experiência, comunicação e relacionamento com pacientes;
- Telemedicina: tecnologias para atendimento, monitoramento e diagnóstico à distância;
- Wearables & IoT: conjunto de tecnologias “vestíveis” e dispositivos inteligentes que coletam e transmitem dados pela internet, como sensores, monitores, relógios, etc.
- E-commerces: plataformas de venda de produtos e serviços online de um único fornecedor.
“São soluções que conseguem agregar um grande volume de dados e extrair deles informações e direcionamentos que mostram como se pode, no dia a dia, serem mais eficientes, entenderem melhor o perfil dos paciente que estão tratando e as suas necessidades”, resume Gabriela Elias Leite, Analista Dataminer do Distrito.
Com essa base de dados, os profissionais podem ter insights para reduzir custos, aumentar a eficiência e melhorar os processos no cotidiano em clínicas e hospitais.
“Essa abundância de dados permite que os médicos tenham um ‘filme’ da vida do paciente e não somente um trailer colhido no ato da consulta, que pode ter algum viés do momento. Os aplicativos podem registrar os dados de vários dias”, completa Wagner Sanchez, coordenador acadêmico do MBA em Healthtech do Centro Universitário FIAP.
Dependendo do ângulo, o advento das healthtechs pode parecer fora do alcance de negócios menores. No entanto, a tecnologia se mostra útil em diversos processos.
“Elas atendem questões relacionadas ao dia a dia desses profissionais e a suas dores. Há no mercado soluções que facilitam e integram a experiência do paciente de ponta a ponta, colaboram quanto à gestão de processos e ganho de eficiência operacional, através da automatização de rotinas, prontuários, prescrição digital, telemedicina, telemonitoramento, etc.”, aponta Aidukaitis.
Um ótimo exemplo são os serviços de marcação e cancelamentos de consultas, com atendimentos simples realizados por meio de inteligência artificial – os chatbots. “Eles desobstruem os canais de voz das operadoras de saúde, já são uma realidade e podem contribuir muito para agilizar os atendimentos corriqueiros que representam a grande maioria das demandas dos clientes”, defende Sanchez.
Os médicos também encontrarão apoio da tecnologia em seu dia a dia. Empresas de diagnóstico já usam inteligência artificial (IA) e big data para apoiar profissionais da saúde na tomada de decisões. Basicamente, essas tecnologias permitem a análise de um grande volume de dados com a ajuda de IA.
“As startups dentro dessas categorias agregam e analisam altos volumes de dados que acabam descomplicando o dia a dia tanto de profissionais da saúde quanto de gestores, já que ajuda na realização de diagnósticos”, reitera Leite.
Nas healthtechs, o futuro já é presente
A pandemia acelerou algumas tecnologias, como a telemedicina. Para Sanchez, aliás, as grandes tendências no setor envolvem um cenário em que o trabalho remoto continuará forte, mesmo com o fim do distanciamento social.
“Com isto, se imagina um monitoramento médico mais eficiente das pessoas ficando em suas casas e menos nas empresas, por exemplo. Com isto, as casas podem se tornar mais healths. Por outro lado, a falta de socialização já está abrindo oportunidades importantes para o tratamento de doenças psicológicas e de forma remota”, aponta.
Seja qual for o uso, Sanchez defende que este é o momento para que organizações, clínicas e profissionais confirmem sua importância e protagonismo investindo em tecnologia e acelerando seus processos de transformação digital – sob o risco de desaparecer diante de negócios digitais e ágeis.
“Empresas que não investem pelo menos 10% em novas tecnologias não sobreviverão, e o mesmo acontece na área médica onde os modelos analógicos irão desaparecer. Startups poderão substituir rapidamente o que uma organização médica tem feito nos últimos 50 ou 100 anos”, alerta.
O caminho de atualização pode não ser cheio de flores – afinal, pode mudar radicalmente a maneira que se trabalha atualmente. No entanto, as tecnologias emergentes estão aí, disponíveis e acessíveis.
“As healthtechs sabem disto e estão investindo fortemente em soluções desburocratizadas e eficientes, encontrando atalhos com soluções nunca antes pensadas – sempre com a ajuda da tecnologia”, finaliza Sanchez.
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