Mercado local e internacional
No Brasil, o crescimento econômico tem surpreendido o mercado. Estas surpresas podem estar associadas a uma combinação de fatores: maior expansionismo fiscal, alta da renda agrícola e aumento do potencial devido às reformas promovidas. Somando os estímulos fiscais e monetários com estes fatores e já incorporando uma razoável quebra de safra nas projeções, ainda assim o PIB pode seguir crescendo entre 1,5% e 2,5% em 2024. Diante destes fatores positivos, o câmbio tem potencial para apreciar mais e aliviar parte das pressões decorrentes do aumento do gasto público.
O governo vem acelerando o gasto público de forma insustentável e com isso vem piorando a perspectiva de resultados primários. Tal postura torna a dívida do governo explosiva a longo prazo.
Na última Ata do Copom, o Banco Central do Brasil (BCB) alertou que os dados do PIB do 3º trimestre evidenciam um descasamento entre o consumo e o investimento. Ao consumo se associam as transferências de renda do governo para as famílias. Já a queda do investimento parece estar ligada à incerteza trazida pela discussão da reforma tributária e não apenas ao efeito da alta dos juros.
O BCB entende e o mercado sinaliza os seguintes pontos: (i) mercado de trabalho aquecido, (ii) gasto público expansionista, (iii) descompasso entre consumo de investimento e (iv) expectativas de inflação razoavelmente acima da meta de 3% para horizontes mais longos. Estes fatores advogam pela manutenção dos cortes da SELIC no atual ritmo de 50 pontos por reunião em direção a uma taxa terminal que o próprio banco central classifica como sendo “contracionista”, ou seja, parando em um patamar ainda restritivo para a economia.
Este patamar final, na visão de alguns analistas, se situaria em torno de 9% a 10% da SELIC e este nível seria sustentável no tempo somente se o governo promover políticas fiscais neutras (o que tem se mostrado ser pouco provável). Em 2024, uma nova diretoria no BCB será formada e, caso a nova composição do BCB opte por uma redução mais agressiva da taxa para algo como 7% a 8%, este patamar provavelmente seria insustentável diante do cenário mais provável para a política fiscal, até porque, agindo assim, a taxa SELIC estaria caindo para níveis abaixo do que o próprio BCB, atualmente, considera ser o neutro.
Nos EUA, o Banco Central Americano (FED) parece menos preocupado com a inflação. Em sua última reunião de política monetária de dezembro, o FED removeu o tom do discurso de alta e abriu a discussão sobre quando os cortes de juros devem ser iniciados. O mercado entende que o começo da flexibilização ocorra na reunião de maio e que poderá beneficiar as moedas de economias emergentes e, por consequência, permitir que outros bancos centrais antecipem por cortes de juros.
O cenário ainda é de alerta, nesse sentido, os ativos financeiros podem permanecer com volatilidade alta no curto prazo, dado que, o crescimento salarial permanece acima dos níveis consistentes com a convergência da inflação à meta, o núcleo da inflação permanece alto, o mercado de trabalho continua apertado, a atividade econômica ainda não mostrou sinais convincentes de enfraquecimento e espera-se que a política fiscal continue expansionista ao longo de 2024. Somado a isso, a campanha presidencial nos EUA tende a ser polarizada e populis-ta, gerando incertezas sobre a sustentabilidade fiscal de longo prazo.
Na zona do euro, os bancos centrais na Europa (BCE) encerraram 2023 em um tom mais duro do que o FED. Os mais recentes comunicados de política monetária do BCE, sugerem que os juros devam ficar elevados por mais tempo, com isso, é possível a convergência da inflação à meta. Entretanto, a inflação e a atividade econômica estão enfraquecendo mais do que o esperado, o que pode abrir espaço para cortes de juros antes de meados de 2024.
Na China, estímulos adicionais podem impulsionar o crescimento no curto prazo. O governo chinês anunciou estímulos fiscais adicionais para impulsionar a recuperação econômica, focando em setores que apoiam o desenvolvimento de longo prazo, como educação e tecnologia. O Banco Central Chinês deixou os juros inalterados em dezembro, mas anunciou uma injeção recorde de liquidez de U$$112 bilhões, o que ajudará a conter a crise no setor imobiliário local. Essas medidas podem continuar a sustentar a atividade no curto prazo, embora o crescimento do PIB deva ficar abaixo de 5% nos próximos anos.
Além destes riscos, há também o efeito do clima adverso sobre as lavouras, já que o El Niño produz um aumento da volatilidade dos preços de alimentação. Observando as últimas leituras de inflação, isso já é notável, mas ainda em uma escala reduzida. Apesar do risco de materialização destes cenários alternativos, o mercado ainda está olhando para a cena corrente de queda mais rápida da inflação.
Projeções para Brasil e mundo | Longo prazo
As perspectivas econômicas para economia global parecem favoráveis, principalmente como resultado da reversão do aperto monetário global dos últimos dois anos.
Em síntese, para a economia brasileira em 2024, os dados se mostram favoráveis. A distensão monetária global nos encontra bem posicionados para nos beneficiarmos da recuperação da atividade econômica mundial. A boa condução da política monetária nos permitirá continuar de forma segura o ciclo de afrouxamento monetário iniciado em agosto 2023, e as reformas implementadas desde 2016 continuam rendendo frutos. É claro que há riscos, sendo o fiscal o principal deles, mas eles são controláveis, se as medidas apropriadas forem implementadas.