O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou novas regras, no início do ano, que reduziram a idade mínima para a realização de procedimento cirúrgico de adequação sexual: de 21 anos, caiu para 18 anos. Além disso, essas regras estabeleceram que a partir de 16 anos é permitido começar as terapias hormonais.
A questão feita por alguns médicos é: existe uma maneira mais adequada de falar, ou lidar, com o paciente que manifesta a necessidade de mudar de sexo? “Cada pessoa, em razão de sua singularidade, demanda um tipo de atendimento; nesse sentido, é preciso pensar no trabalho em rede, por meio de uma equipe multiprofissional da área da saúde e assistência social”, diz o psicanalista Cândido Renato Alves de Oliveira, presidente da Comissão Especial de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia 9ª Região.
No caso de crianças e adolescentes transgêneros, o CFM recomenda o acompanhamento de psiquiatra, endocrinologista, ginecologista, urologista e cirurgião plástico. Na opinião de Cândido, independente da área em que atua, é imprescindível ao profissional da saúde compreender o paciente para além das visões de papéis de gênero definidos por uma visão binária, macho-fêmea. “A partir daí, torna-se mais fácil olhar para o outro com humanidade, a fim de contribuir para combater a perpetuação dos processos de violência dirigidos a pessoa transexual ou travesti”, completa.
As novas regras do CFM também preveem acompanhamento aos familiares dos pacientes. Para Alice de Alencar Arraes Canuto, mestre em Psicologia e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), vale a pena um trabalho ainda mais amplo. “É importante sublinhar o papel da família, da escola e das instituições religiosas no respeito e acolhimento da população trans”, diz. “O processo transexualizador é uma das formas de restituir a humanidade que foi negada a essas pessoas; a medicina e as demais áreas de atuação em saúde podem auxiliar para a melhoria da qualidade de vida dessa população”, enfatiza Alice.
Para realizar a transição, o paciente deverá ser informado e orientado previamente sobre os procedimentos e intervenções clínicas e cirúrgicas aos quais será submetido, incluindo seus riscos e benefícios. Na avaliação do conselho, as mudanças favorecem o acompanhamento integrado e proporcionam condições para a formação de profissionais que atendem o segmento.