A transformação digital já é uma realidade, causando alterações profundas e cada vez mais rápidas em nossa sociedade. Na área da saúde, o avanço da tecnologia traz inegáveis benefícios e, também, questionamentos sobre o papel do médico. Como o profissional está se colocando nesse cenário de inovação e velocidade em que dados, softwares e robôs passam a integrar a rotina de consultórios, clínicas e hospitais?
Para especialistas reunidos no Fórum de Ideias, que abordou o tema durante o 74º Congresso Brasileiro de Cardiologia, a transformação digital reforça a figura do médico como peça fundamental na liderança desses processos de mudança. “O interesse pelas novas tecnologias agrega valor a tudo aquilo que nós aprendemos com o estetoscópio na mão”, diz Cidio Halperin cardiologista do Hospital Moinhos de Vento. “O conhecimento está sendo multiplicado e em uma rapidez impressionante”, destaca. “A evolução pode até assustar um pouco o médico, mas ele nunca será substituído”, assegura Roberto Kalil Filho, professor da Universidade de São Paulo, USP.

Ao relatar as experiências no processo de transformação digital do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), o cientista da computação e epidemiologista Tiago Andres Vaz afirma que um software deve ter foco no usuário para funcionar bem dentro de um hospital. “Definir a melhor experiência do usuário é uma tarefa primordial do médico, a quem cabe, também, ser o principal influenciador na decisão das interfaces do sistema”, enfatiza.
Para avançar, acrescenta Vaz, é preciso que se possa mostrar resultados: o que os dados que estão sendo coletados e transformados em conhecimento estão trazendo de benefícios. O AGHUse, sistema de gestão hospitalar, atende hoje em torno de 10 mil usuários dentro do HCPA, sendo utilizado ainda pela Unicamp e pela Embraer, entre outras grandes empresas. Mais de 90% desse público é composto por profissionais da saúde.
Segundo Vaz, o sistema inclui todos os módulos que qualquer profissional de saúde possa precisar e dá grande agilidade aos procedimentos. Em outro relato, Wallace André da Silva fala sobre a inclusão digital no hospital universitário em Palmas (TO), que trouxe melhorias no atendimento à população. “A partir dos dados colhidos e do treinamento e qualificação de 400 pessoas, diversos processos foram agilizados: o tempo de gira leito foi drasticamente reduzido, bem como a espera por um leito na UTI”, exemplifica Silva.
Para os especialistas, a participação do médico – que será sempre aquele a ter o encontro “olho no olho” com o paciente – é fundamental em qualquer processo de transformação digital e inovação que envolva o campo do atendimento à saúde. “No momento em que o médico perceber que toda modificação digital é só uma ferramenta, vai mudar o bem-estar do seu paciente para que ele viva mais e melhor, a medicina vai perder a sua centralidade na doença e pensar mais no paciente”, afirma Cidio Halperin
 
	    	 
		    








