Como o peão que dá início a uma partida de xadrez, o primeiro nível de atenção em saúde é fundamental para organizar o fluxo dos serviços nas redes de saúde, dos mais simples aos mais complexos.
Ao entender as necessidades da população, é possível criar estratégias que melhor atendem cada pessoa. Isso traz ferramentas importantes para saber como agir sobre as principais causas de problemas de saúde e riscos ao bem-estar, bem como de lidar com os desafios emergentes que ameaçam esses pilares no futuro – como bem vimos durante a pandemia.
A questão é que mais tempestades estão por vir. No mundo, os gastos com saúde estão crescendo e a população está envelhecendo.
Para se ter uma ideia, projeta-se que os gastos em saúde no Brasil aumentarão para 12,6% do PIB em 2040 (comparado a 9,6% em 2019).
Quanto ao envelhecimento, segundo dados do IBGE, o número de pessoas com 60 anos ou mais no país cresceu de 11,3% em 2012 para 14,7% em 2021. A previsão é que, em 2050, o Brasil terá 30% de sua população com idade acima dos 60 anos.
“Os custos da saúde estão subindo no mundo todo e de forma muito rápida. Como podemos cuidar de uma população que está envelhecendo? Como garantir atendimento a todos? É preciso conectar dados, unir os médicos e incentivar as ações preventivas em grupo”, disse Robert Pearl, professor clínico na Stanford University School of Medicine, durante palestra no HIS (Healthcare Innovation Show), no dia 22 de setembro.
Pearl, que é ex-CEO do Permanente Medical Group, o maior grupo de planos de saúde dos Estados Unidos, acredita que a cultura médica está mais preocupada com a hierarquia do que com os resultados, o que pode atrapalhar o funcionamento desse sistema.
“Eles creem que o sistema atual é melhor, embora os dados não digam isso. Um sistema conectado, no qual se atue preventivamente, tem muito mais sucesso do que o sistema atual, no qual você paga pela consulta que precisa naquele momento”, disse ele.
Com serviços que vão desde a promoção da saúde (como orientações para uma melhor alimentação), e prevenção (como vacinação e planejamento familiar), até o tratamento de doenças agudas e infecciosas, o controle de doenças crônicas, cuidados paliativos e reabilitação, o primeiro nível de atenção em saúde impacta não só no bem-estar do paciente como também na situação da saúde coletiva.
Em sua palestra, Robert Pearl falou sobre cases de sucesso realizados nos Estados Unidos, onde a saúde integrada preveniu diretamente o agravamento de doenças como infarto e outros tipos de câncer em pacientes monitorados.
Além disso, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a atenção primária tem se mostrado um investimento custo-efetivo, pois há evidências de que reduz os gastos totais em saúde e melhora a eficiência, por exemplo, diminuindo as internações hospitalares.
Ou seja, a atenção primária, com uma gestão técnica que realiza ações sanitárias, tecnológicas e científicas, como pesquisas e análises regionais, gera economia, o que torna viável todo o sistema.
Segundo a OPAS, o fortalecimento dos sistemas na comunidade com a descentralização dos serviços de saúde contribui para a construção de resiliência, o que é fundamental para resistir a choques nos sistemas de saúde.