Um em cada dois brasileiros se automedica uma vez por mês. Um em cada quatro, uma vez por dia. As informações são da pesquisa do Conselho Federal de Farmácia (CFF), publicada em 2019. A automedicação pode ser considerada um problema de saúde pública no país, já que segundo este mesmo estudo, 77% dos brasileiros utilizaram medicamentos nos últimos seis meses sem prescrição. Diante desse cenário, a telemedicina tem sido encarada como um instrumento que pode minimizar esse consumo e, consequentemente, frear os dados causados pelo uso descontrolado dos medicamentos.
Os dados refletem outros estudos já realizados sobre o mesmo tema no país. Em 2018, o Instituto de Pós-Graduação para Profissionais do Mercado Farmacêutico (ICTQ) mostrou que 79% dos brasileiros, com mais de 16 anos, já haviam se automedicado. Neste levantamento, o percentual chegou a 91% entre pessoas de 25 a 34 anos, mostrando que o problema é ainda maior entre os mais jovens.
A automedicação pode levar a vários danos à saúde, sendo um dos principais deles a intoxicação. De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) da Fiocruz, a cada hora, duas pessoas se intoxicam com medicamentos no país. Os motivos que levam à automedicação são vários. De acordo com a pesquisa do CFF, cerca de 60% das pessoas justificam que já usaram a mesma substância antes, 47% afirmam ter acesso fácil ao medicamento e 44% confiam na informação repassada por terceiros.

De acordo com matéria publicada sobre o assunto no Portal Consultor Jurídico, a telemedicina tem sido considerada uma ferramenta de mudança desse panorama por dois motivos, um deles é a eliminação de deslocamento físico, que favorece uma imediata orientação clínica e direcionamento para a especialidade correta. Isso pode fazer as pessoas evitarem o impulso de tomar o remédio porque terão o encaminhamento correto de forma rápida. O outro advém do risco moral, isto é, da possibilidade de o indivíduo mudar o comportamento por não estar mais inserido em um mesmo contexto. No caso da telemedicina, ela poderia provocar uma reflexão nos pacientes sobre a necessidade de se automedicar diante da praticidade de acesso a um profissional de saúde.
A telemedicina é uma realidade em diversos países. Nos Estados Unidos, está presente em 60% das instituições de saúde e 50% dos hospitais. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) estabeleceu regras em 2002 para a utilização desse tipo de serviço. No ano passado, por meio da resolução 2.227, houve uma tentativa de atualização dessas normas, considerando o avanço da tecnologia e a incorporação de novos equipamentos, como os smartphones.
A nova resolução definia a telemedicina como “o exercício da medicina mediado por tecnologias para fins de assistência, educação, pesquisa, prevenção de doenças e lesões e promoção de saúde”. Entretanto, ela foi revogada pela resolução 2.228, em fevereiro deste ano, pelo CFM. Desde então, o Congresso Federal realiza uma série de audiências públicas para estabelecer como será feita a regulamentação da telemedicina no Brasil. Atualmente, a telemedicina é permitida quando médicos auxiliam um colega, por videoconferência, para dar uma segunda opinião durante um determinado tratamento.


















